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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O estagiario do bloco K-80


-Diga seu nome e como tudo aconteceu.
-Bem, meu nome é Paulo, e o que aconteceu é mais ou menos isso:
-Eu era estagiário na universidade em que estudava, a UEM. Era um trabalho fácil, sem complicações, até tedioso as vezes, até que conheci aquela porta. Foi assim, eu havia ido entregar uns documentos para um professor no bloco K-80, um bloco velho e quase abandonado com uns laboratórios e uns chuveiros estranhos no corredor, acho que aquilo é para caso alguém pegue fogo dentro de um dos laboratórios se apague ali. Estava voltando e então vi essa porta, ela era diferente das outras, não tinha nenhuma identificação e era feita em madeira mais resistente. Eu sou muito curioso, então resolvi dar uma olhada, não ia invadir nem roubar nada, só dar uma olhadela. Então eu abri a porta e aconteceu, foi como em um filme! Eu entrei pela porta e quando dei-me conta estava em outro lugar! Misticamente eu estava exatamente onde eu queria estar. Estava no quarto da Flávia, a moça que eu havia conhecido no dia anterior no Bar, quando estava chapado de erva. O estranho era que aquela linda mulher não se movia, parecia que o tempo estava congelado, eu tentei toca-la e não consegui, era como se eu fosse um fantasma, mais isso não importava porque eu tinha ela ali do meu lado, era lindo, por mais que ela não se movesse eu podia contemplar a beleza da moça por qual havia me apaixonado, e diga-se de passagem, platonismo tem lá seu charme. Não tenho certeza quanto tempo fiquei lá, mais foi pouco, algo em torno de 5 minutos e então sou jogado para fora pela mesma porta que entrei.
Fiquei atordoado no começo, mais então eu vi como era bom aquilo. Claro que me assustou, mais sempre fui bem criativo, e ir parar onde eu mais gostaria de estar nunca seria algo ruim. Esse foi meu grande erro.
-Então você sabe que se apegar a porta foi um erro.
-Como sei, estou aqui pagando pelo que fiz, não estou? Continuando a história, no outro dia eu fui de novo, nem sai de casa naquela noite pois estava fascinado, não conseguia parar de imaginar, para onde eu iria no outro dia. Então no dia seguinte, eu dei uma desculpa para ir até o abençoado K-80 e entrei novamente na porta. Imediatamente fui parar dentro de um ônibus, que agora estava parado, realmente eu tive a confirmação de que ao entrar naquela porta o tempo parava. Lá estava ela novamente, a linda ruiva com jeito de meiga e uma pitada de sofrimento visível, eu não sei porque mais ela sempre tem essa cara, exatamente o tipo que mais me atrai, e como me atrai, aquela mulher sem duvida conseguiu me conquistar. Mais 5 minutos de vida intensa e então eu volto para um corredor, desta vez pensei, vou voltar agora mesmo, quero saber como ela esta agora. Então entrei novamente na porta e a única coisa que consegui foi ver um armário velho, cheio de medicamentos e frascos antigos e umas vassouras empilhadas, passei longe da mulher mais linda do norte do Paraná, que no momento estava num ônibus indo para algum lugar em Maringá.
-Então o que você fez?
-Fiz o que qualquer homem faria! Esperei o outro dia e tentei novamente e deu certo, percebi então que só podia fazê-lo uma vez por dia, e assim foi indo, descobri quanto tempo eu ficava lá, eram 4 minutos e 17 segundos, os melhores de cada dia da minha vida!
-Então me diga, como você veio parar aqui?
-Eu estou contando a história toda, não me apresse. Foi mais ou menos assim amigo. Eu estava indo cada dia ter meu momento de contemplação da deusa que era a Flávia. Aquilo virou minha rotina sabe, como se fosse uma oração para um cristão, logo eu me acostumei. Dia após dia eu via aquela mulher e não precisava mais sair de casa, fiquei igual a um idiota, todo o meu dia era em função de esperar o momento de ir vê-la Não tinha vontade de sair e vê-la pessoalmente, fiquei com medo dela não me querer, sempre me considerei um pouco covarde sabe. Então um dia eu reparei que estava ficando monótono ficar apenas olhando sem poder toca-la, tentei tocá-la novamente e nada. Mesmo ficando sem graça eu não parei de “visita-la” mais o platonismo acabou perdendo seu charme, agora, eu queria muito ter aquele corpo e não podia. Via o quão minha vida era miserável, ficar olhando para uma mulher e não fazer nada, aquilo era bem meu tipo mesmo. Estava ficando deprimido, mais ainda assim do lado daquela garota era onde eu gostaria de estar. Eu nunca criei coragem para ir falar com ela, então ficava mais desanimado, isso foi indo e me afundando, mais eu tenho orgulho de dizer que continuava vendo ela, sempre ela, a minha musa, a minha ruiva, a minha Flávia.
-Aprese-se conte logo isso, que não tenho todo o dia para você!
-Ok, ok, não vou me prolongar muito mais. Bem, como eu disse fiquei deprimido, então um dia indo para o meu trabalho, indo encontrar ela tive uma surpresa inesperada, quando entrei no ônibus para ir para a UEM, encontro ela, antes da hora de costume, ao vivo mesmo, Flávia, eu já estava um tanto quanto deprimido e fiquei mais ainda quando ela me viu e me reconheceu, sentou do meu lado, ela estava indo para a UEM acertar umas coisas dela, então conversamos um pouco e não percebi sinal nenhum de que ela estava nem ao menos um pouco interessada em mim, eu conversava com ela como se já fossemos íntimos e ela me tratava como um completo estranho, eu então percebi de vez o fracasso que eu era. Cheguei ao trabalho, fui então para o K-80, queria ver onde ela estaria agora, mal eu sabia, que a porta realmente era bem especial, eu paguei meu preço, a porta realmente levava a pessoa para onde ela mais queria e então quando eu entrei naquela porta, a única coisa que me lembro é de mim sentado naquela cadeira e esse escritório estranho. Só sei que isso é o inferno porque me falaram na porta, assim como me falara m que fui encontrado com os pulsos arrancados fora naquele almoxarifado onde a porta ficava, então percebi, percebi que vendo o quão lixo eu era, a única coisa que eu realmente queria era morrer. Mais agora me diga, o que me ensinaram na terra está errado? Isso não é uma tortura, é entediante, mais não torturador.
-Você pensa isso, porque aqui é somente o balcão de entrada, favor siga a fila, seu cadastro está pronto.
-Ok, vou indo, mais ainda acho estranho, cadê o fogo, as pessoas sofrendo e essas coisas.
-Entre naquela porta ali e veja seu destino.
Então o jovem estagiário Paulo entra na porta e ele descobre como o inferno podia ser ruim. Ao entrar na porta indicada pelo homem do balcão ele se depara com o que era o verdadeiro inferno, ele se vê em um quarto muito bonito, e de frente ao computador a linda mulher por a qual ele havia sofrido de amor e morrido, era ela, Flávia a ruiva, ela estava parada no tempo, exatamente como na primeira vez que ele a viu pela porta, ele não havia fechado a porta ainda então o atendente chega perto empurra-o e diz de maneira cruel, anunciando seu sofrimento:
-Bem vindo ao inferno! E só para constar, a moça chorou por sua morte e até disse que se você fosse mais incisivo vocês teriam ficado juntos. HAHAHA.