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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Corações.

   Estávamos num grupo de pessoas, amigos, amigos de amigos, pessoas que nunca nem vi na vida. Ela era uma conhecida até o momento, tínhamos uma amiga em comum. Era uma daquelas noites de outono, em que em questão de minutos, talvez horas a temperatura muda drasticamente e nesses dias é fácil ser pego de surpresa pelo frio, principalmente num lugar igual ao bosque das grevíleas.
   Neste dia, estávamos com algumas garrafas de vinho barato, muitos baseados e um violão. Eu nunca havia dado muito atenção a aquela moça, mas naquele dia ela estava impressionantemente sexy, a ponto de prender meu olhar. Sentei ao seu lado, nesta hora a temperatura estava começando a descer e ela vestia apenas uma blusa com decote e um casaco finíssimo. Eu pedi o violão para um rapaz que estava a alguns minutos balbuciando algumas músicas do Jorge bem e como nunca fui bom cantor, pedi para Carlos, um amigo, para que cantasse uma música que eu iria tocar. Sabia que ela gostava de grunge, então resolvi tocar “creep” do Stone Temple Pilots, após o fim da música percebi que minha atitude tinha dado certo, ela estava me olhando de uma maneira mais encantadora, ou melhor dizendo, encantada.
   Conversamos durante um tempo, então o frio maligno veio, ela parecia um pequeno filhote congelando, achei belo. Sempre me apaixonei fácil e acho que isso sempre foi de fácil percepção, também fui sempre um romântico e gostava de fazer coisas românticas, então resolvi armar algo.
    Quando a vi tremendo de frio e bebendo para tentar esquentar, tirei minha blusa, coloquei dentro do bolso de forma disfarçada meu coração e sem mesmo que ela pedisse, envolvi a pequena jovem, seu nome era Luíza, com meu grande moletom que aceitou de bom grado. Também não avisei ela do que havia em meus bolsos, estava seguro de que ela iria perceber e, quando isso acontecesse, teria terminado minha jogada e era quase certo que ela iria retribuir entregando-me o seu coração, assim ficaríamos juntos.
   Impressionante a crueldade com que a lei de Murphy pode ter. Não sei dizer se ela não viu, ou se não gostou da ideia de ganhar meu coração e jogou-o fora, mas acerca desse assunto ela não comentou nada, e desestimulado pelo fato da minha “grande sacada” não ter tido o efeito esperado, pelo menos não no momento, nosso “clima” acabou esfriando. O fim da noite foi chegando e ela anunciou sua partida, para tentar garantir que iríamos nos encontrar novamente, pedi que ficasse com a blusa e assim ficar aquecida até chegar em casa, com a desculpa de “saber como estava minha blusa” peguei seu telefone.
    Alguns dias se passaram e não liguei para ela de começo, queria ver se ela me daria alguma atenção na internet, local por onde tínhamos algum (quase zero) contato antes desta noite, ela não deu. Depois de uma semana comecei a sentir a falta do meu coração, e quando a amiga que tínhamos em comum entregou-me o casaco sem o coração no bolso, pensei, demorou um pouco para ela perceber, mas ela gostou do meu gesto, tenho que ir atrás dela e de um coração, sendo o dela ou o meu. Peguei meu telefone e liguei para ela com um frio na barriga, característico de um começo de flerte, na primeira tentativa ela nem atendeu, passado um dia, tornei a ligar e desta vez sua doce voz entrou suavemente em meus ouvidos.
    -Alô!?
   -Alô! Luíza?
   -Sim, quem fala?
   -Oi, aqui é o Francisco, lembra? O amigo da Laura...
   -Oh!? Claro, tudo bem?
   -Tudo ótimo e você como está?
   -Bem bem, tudo certo.
   -Então, lembra que naquele dia do “grevas” você ficou com meu moletom?
   -Sim, claro. Mas eu deixei ele com a Laurinha uns dois dias depois, ela não lhe entregou ainda?
   -Ah, sim, entregou sim. É que eu esqueci um... coisa no bolso e creio que você tenha achado.
   -Na verdade não me lembro de ter achado nada, acho que nem mesmo conferi os bolsos, não tenho esse costume. Mas eu estava meio bêbada aquela noite, o que você deixou na blusa?
   -Então... Olha que cabeça a minha, esqueci meu coração, sou um relapso, não!?
    -Nossa, nem sabia que você tinha um. Olha eu tenho certeza que não tem nenhum coração aqui em casa, você pode ter deixado ele cair antes de me entregar.
    -Bem, obrigado de todo modo, e hein, sexta-feira vai ter rolar um blues no tribos, a gente deveria ir!
    -Vou ver, se for o caso combino com a Laurinha.-É, OK, beijo.
    -Beijo.
    Fiquei embasbacado ao colocar o telefone de volta no gancho, onde caralho estaria aquele pedaço de mim. Uma agonia foi me pegando de jeito, afinal, enquanto eu achava que ele estava com a Luíza, tudo bem, ele estava seguro, mas agora, eu não sabia onde meu precioso (ou talvez nem tanto, já que entreguei-lhe para a primeira que apareceu) coração.
   Agora a única coisa que eu queria era ter meu frágil coração de volta e no melhor estado possível. Sendo assim, fui atrás de Laura, a amiga que me entregou o moletom, achei que poderia ter ficado na blusa e assim passado despercebido por Luíza. Estava num livre, então fui até a casa de Laura, obviamente depois de ter ligado e conferido se ela estaria lá. Entrei em seu apartamento, o 802 do edifício Classic, era muito agradável, tinha uma pequena e aconchegante sacada e os móveis haviam sido bem escolhidos, não consegui aproveitar decentemente a beleza do lugar, quando seu coração está na posse de outras pessoas, sem você estar com o delas, fica difícil sentir esse tipo de coisa, falta-lhe algo. Sentei-me numa boa poltrona de madeira com estofados e percebi que estava soando.

   -Laura, tô preocupado, meu coração ficou naquele meu moletom que deixei com a Luíza, sua amiga, e não tá com ela e nem na blusa. Por acaso não ficou com você?
    -Coração? Nem tava sabendo que você tinha arrumado um Chico.
    -Eu sempre tive um! E ando escutando muito isso ultimamente.
    -HAHAHA! Bem, não tá aqui não, mas você é um besta mesmo hein! Foi deixar seu coraçãozinho pequenino com a Luíza, não foi muito inteligente, HAHAHA!
  -Eu não DEIXEI com ela, eu esqueci!
  -Sei, essa é meio velha né meu bem. Quer café?
    -Não, vou indo, tenho que achar essa merda de coração logo, não aguento mais isso!
    Fui-me embora e no dia seguinte fui no único lugar em que poderia estar e ainda ter alguma chance de achar, o bosque das grevíleas. Cheguei no “grevas” ainda de manhã, estava com sono e o orvalho estava na grama e nas folhas. Cheguei até o local onde estávamos naquela noite, andei por alguns minutos procurando e finalmente, somente a alguns centímetros de onde Luíza estava sentada, achei a parte que me faltava, meu cansado coração estava de volta.
    Pela posição em que estava parecia ter sido chutado, além do que tinha uma marca de sapato, mas era de um pé grande, todo modo, nunca terei certeza se a moça jogou meu coração fora, ou se apenas nunca chegou a tê-lo nas mãos de verdade. Uma vez com minha “válvula de emoções” em minhas mãos novamente, vi que ele estava sujo e amassado, molhado de orvalho e machucado, limpei-o com minha camisa, que por sua vez ficou bem suja, tentei consertar o amassado, mas não consegui desamassar tudo.
    Apesar de amassado, ele parecia funcionar bem, coloquei-o de volta em seu lugar e o vi começando a trabalhar novamente, estava lento, recuperando-se e isso levaria um tempo, me senti melhor com ele de volta no meu peito. Fechei minha camisa e fui beber, afinal, tinha que comemorar a volta de um bom e, apesar de desleal, velho amigo.



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Baseado na música "Devolve, Moço" da incrível Ana Canãs. Quem quiser ouvir Clique aqui.
Agradecimentos ao Paulo Henrique (CHE) de Souza, do Poesias do CHE por me arranjar um caderno com poderes mágicos.

Ruivas, belas e pernetas.


   É impressionante a capacidade humana de criar manias. Eu sempre fui muito bom em criar as minhas, uma vez cismei que deveria bater duas vezes os talheres, fazendo um som agudo, para “avisar” meu estômago que a festa estava começando. Outra vez adquiri o hábito de arrumar minha camiseta, puxando-a para baixo e descolando-a do corpo, toda vez que meu relógio tocava, o que ocorria de hora em hora.
    Uma vez dito que sou um homem de manias, vou lhe falar um pouco sobre as épocas em que misturei minhas manias, que criam-se todo o tempo e minha vida amorosa, também conhecida em alguns lugares como “insanidade injustificável”.
    Estava no segundo ano de faculdade e era razoavelmente bom em algo que meu avô costumava chamar de “galanteio”. Nunca fui muito bonito, então me obriguei a ser bom conversador para conseguir ter algo para mostrar às jovens. Na época eu não perdia a oportunidade de puxar uma conversa com as pessoas do sexo oposto, e como andava com uma taxa de sucesso bem alta, comecei a ter mudanças peculiares no meu “tipo” de mulher. Sendo assim acabei decidindo que só teria relacionamentos longos com jovens ruivas ou de cabelo pintado, não teria problema ficar com outro tipo, mas namorar ou qualquer coisa que durasse mais de uma semana deveria seguir esta regra, não sei por que escolhi ruivas, mas elas sempre me atraíram muito, acho que no começo foi só questão de gosto mesmo.
    Foi impressionante, na semana seguinte achei uma moça nesse padrão. Chamava-se Dayane e era do interior de São Paulo. Tinha uma conversa agradável e belos peitos e um admirável traseiro, gostava de ouvir hardcore, se eu não estou enganado, e conversar sobre política liberal (não era algo que me interessava muito, mas com ela falando tinha lá seu charme), e obviamente seus cabelos eram tingidos, tinham um fabuloso tom vermelho sangue.
   Nós ficamos juntos durante 3 perfeitos meses, foi incrível, ela fazia umas coisas com a mão que me deixava louco, mas isso não vem ao caso. Depois desse tempo ela desistiu do curso (tenho dúvidas até hoje se ela fazia farmácia ou química, lembro que ela sempre tinha jalecos pendurados no cabideiro, acho que era farmácia mas não consigo afirmar com certeza qual era) e voltou para sua cidade, pelo que sei, isso é, se ela me falou a verdade, seu pai estava doente. Quando ela se foi, fiquei deprimido, e no fundo eu pensava que ela voltaria, nessa época eu percebi que havia realmente me apaixonado por aquela mulher.
    O jeito que meu inconsciente deu para que eu ficasse, com certeza em vão, esperando por ela foi, uma mania extra e umas mudanças nas regras que eu criei tempos antes para relacionamentos.
    O coração de um jovem pode pregar peças quando está apaixonado, e o meu não agiu de forma diferente naquele instante. Após algum tempo engolindo a separação e o fato da moça de que gostava ter ido para não mais voltar, resolvi que cores de cabelo não importavam, a regra agora era: “não relacionar-se com uma moça que tenha as duas pernas” e isso valia para todas as ocasiões, ficar, namorar, uma simples trepada, só valiam, pernetas ou sem pernas. Comigo falando assim, você pode pensar “esse cidadão tá completamente louco!” mas dentro de mim, eu acreditava realmente na volta da formosa Dayane e suas mãos macias, assim na minha cabeça, aquilo tudo era só um jeito de garantir a vaga dela, até seu retorno.
   Outra coisa que me surpreende nas atitudes humanas é a influência da sorte, não sorte tipo destino ou coisa assim, apenas o poder e a beleza do acaso. Fiquei alguns meses sem mulher nenhuma e jurando a mim mesmo que estava assim por que era exigente e que nunca achei mulher que entrasse nos meus padrões, ou seja, não havia mulher boa o bastante para mim. Até que começou o novo ano letivo, junto dele veio a nova safra de calouros da Universidade Estadual de Maringá, e com eles uma surpresa. Incrivelmente uma das minhas calouras andava de muletas, e com um jeito de mancar diferente do normal para alguém que quebrou a perna. No mesmo dia, na festa de recepção para os calouros de história, puxei conversa com ela, de começo sem tanta pretensão, estava conhecendo os calouros, mas depois vi, que era verdadeiro interesse. Enquanto nos falávamos descobri que por incrível que pareça existia uma perneta naquela cidade. Ela sofrera um acidente quando tinha 6 anos, estava junto com seu irmão mais velho numa moto e bateram ao lado de um ônibus, história triste e com ela contando era impressionantemente encantador, foi fácil já que tenho um certo encanto por pessoas fodidas pelas suas vidas. 
   Nos aproximamos rapidamente, primeiro pelo fato dela ser a única pessoa naquela universidade e em todo o meu círculo social, que supria minhas exigências quanto a atributos físicos, segundo que mutilados sempre me chamaram a atenção, eu gosto deles, parecem tão aventureiros, ou o que resta deles depois de aventura mal sucedida, e por último, ela era uma maconheira de primeira, o que criava um laço entre nós, a ganja e nosso apego a ela. Ela era bonita, olhos claros e cabelos pretos, dei graças na época por não me apegar mais a cores de cabelo, apesar de preferir ruivas e tingidas. Seu nome era Mel, me chamou bastante a atenção, ela tinha uma insegurança notável que me atraiu logo (pode-se somar ao fato dela ser bonita e ter um jeito de ser que me atraía, o fato de não transar a meses, mas seria indelicado de minha parte falar), além do que, ela também não tinha muitas opções, afinal, além de mim, quantos caras você acha que olham com paixão para uma perneta, não que ela não fosse atraente, mas creio eu que deve haver algum tipo de preconceito contra a sua classe.   Então foi basicamente assim, num dia estava dando meu primeiro beijo na doce e insegura Mel, aconteceu ainda na primeira semana de aula, e quando me dei conta, completávamos 2 anos de namoro. Foram 2 prazerosos anos, que passaram rápido demais pro meu gosto, mas tenho que dizer que aquela mulher, apesar de não ter uma das pernas, sabia muito bem o que fazer com suas coxas, que eram muito fortes e grossas por sinal.
    O fim do meu relacionamento com Mel nunca ficou muito claro para mim, acho que sua insegurança, que nunca deixou de existir enquanto namorávamos, fez com que ela terminasse comigo. Eu tinha me formado a poucas semanas e segundo ela, não queria que eu ficasse em uma cidade que não era meu lar só por sua causa, ela me disse que sempre pensou que tive pena dela e por isso me interessei, eu até tentei negar e conversar, mas ela era teimosa. Bem, isso é o que ela falou para mim, existe a possibilidade dela querer trepar com outros, ela poderia ter achado alguém que gostasse de pernetas tanto quanto eu, ou só ter enjoado de mim e aproveitado a deixa, mas, como eu nunca faço perguntas que não quero realmente saber a resposta, nunca fui muito a fundo nessa conversa, afinal se ela queria terminar não haveria nada que eu pudesse fazer.
    Me formei e voltei para a “espetacular” Cascavel, saí de lá como estudante, voltei professor de história, grande bosta, eu não tinha mais comigo a minha querida Mel. Uma vez em Cascavel fui contratado por um colégio para dar algumas aulas de história do Brasil no pré-vestibular. Lá eu via dezenas de jovens moças com seus atraentes corpos e seus cabelos de todas as cores e suas pernas e coxas e eu não sentia atração alguma, para mim, naqueles tempos em que eu estava extremamente deprimido, nunca iria aparecer outra garota como ela. Vivi perto de 1 ano e meio como um ser assexuado, eu havia sido despedaçado e estava remontando-me, precisava me ver longe de mulheres e de sua influência por um bom tempo. Ao fim desse período, conheci ela, a mulher de que quero falar desde o começo de toda essa história.
    Victória. Ela era a nova professora de filosofia, na verdade ela havia se formado em psicologia, mas podia dar aulas graças a uma especialização feita a distância, além do que abrir um consultório não é algo fácil hoje em dia. Victória tinha lindos cabelos ruivos e ondulados, lembrando chamas e um kanji significando “amor” quase que imperceptível tatuado na nuca, ela também era dona de um belo par de seios, e usava óculos, o que a deixava com um ar de intelectual reprimida que eu achei estranho de começo, mas logo, achei belo. De começo, nós éramos apenas amigos, sem nenhuma sacanagem, pelo menos da minha parte, saíamos juntos e tudo o mais que colegas que viram amigos fazem, mas, até então, não tínhamos olhares de malícia um para o outro. Ela me contou como tinha um triste fim em todos os seus relacionamentos e que na grande maioria das vezes era por sua própria culpa, por ser muito exigente a maioria das vezes e que estava tentando mudar isso, me identifiquei com ela nesse aspecto, e eu lhe contei toda a minha história, na verdade, praticamente vomitei toda minha história de vida nela, não sei por que mas sempre agi como se a palavra psicólogo e “confidente para todas as horas” fossem sinônimos, ela admirou-se com tudo isto e segundo a própria, foi isso que a fez se interessar por mim de começo, até hoje não entendo.
    Um terceiro e último costume humano que me fascina é a capacidade de adaptação em tempos de necessidade. Assim, quando percebi o interesse dela, minha vontade até então oculta e agora incontrolável de fazer sexo despertou um antigo hábito com relação a cabelos e suas cores e também jogou todas as minhas regras para escanteio, tudo pela quase perfeita, linda e ruiva Victória. Essa foi a 3ª vez que me apaixonei pra valer, acho que tive facilidade em relevar o fato de ela ter suas pernas no lugar, afinal, nem só de qualidades as mulheres são feitas e eu precisava de alguém para conversar, não tanto quanto para transar, mas precisava, e assim, nós dois nos envolvemos de um jeito frenético e lindo.   Nosso casamento está marcado para daqui duas semanas, eu, esse trapo que você está vendo e a “quase perfeita Victória”, sou um homem de sorte, a lua de mel será na Nova Zelândia, juntei grana e planejei muito tempo essa viagem, nós vamos escalar e talvez até surfar, quero ver coalas também, existem coalas na Nova Zelândia né!? De qualquer jeito, vai ser lindo.
    Mas aproveitando que falei de escalar, você sabia que a taxa de amputados em casos de acidente com a subida de rochedos é de quase 15%? Isso é mais do que em ataques de ursos e acidentes com motosserras! Esse tipo de informação praticamente inútil sempre me diverte.
 
 
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Dedicado à Victória, minha futura paixão.

sábado, 6 de agosto de 2011

Sobre rosas e bolsos.

   Naquela época eu era só um estudante do 2º ano colegial. Então conheci essa moça, Jéssica era seu nome, havia sido transferida. Era muito bonita, olhos místicos que mesclavam entre azul e verde, sempre fiquei embasbacado com aqueles olhos e modo como ela os usava. Cabelos pintados de vermelho e quem me conhece sabe que isso sempre foi meu ponto fraco, não posso ver uma guria de cabelo vermelho que fico louco. Ela tinha um atraente e esguio corpo, o qual movimentava de um jeito tão doce e sensual que chegava a ser difícil não ficar hipnotizado pelo seu caminhar. Como ela era nova no colégio, procurava pessoas para fazer amizade, ou mais que isso. Éramos da mesma sala, sentávamos perto um do outro, logo, o contato entre nós dois era inevitável.
    O tempo foi passando e estávamos nos conhecendo, eu descobri que ela, assim como eu, tinha um pouquinho de sotaque gaúcho, ela descobriu que eu não gosto de pessoas sem valor pedindo atenção e que achava lindo o seu modo de escrever, colocando a caneta entremeio os dedos anelar e médio, gostava tanto que até adotei a técnica e hoje só escrevo assim. Conversa após conversa, um conhecia mais do outro e surgiu em mim um certo desejo por ela, posso estar enganado, mas acho que ela também tinha apreço por mim.
   Um dia estávamos conversando sobre romantismo, não o movimento artístico e sim algo em torno de como ser romântico, como isso era bonito e ao mesmo tempo não tinha mais espaço na nossa época. Falei sobre como gostaria de ter uma moça a quem pudesse dar flores e chocolates e gostar de verdade sabendo que poderia confiar, com uma cara de decepção ela me disse que nenhum homem jamais havia lhe dado flores e que acharia lindo se isso acontecesse. Não sei se ela queria me dar algum sinal com isso, ou apenas estava mostrando um lado mais sensível de si, mas resolvi que iria deixá-la feliz, eu iria ser seu cavalheiro.
    Fui para casa naquele dia pensando se deveria comprar um lindo buquê de tulipas azuis ou se deveria mandar-lhe um belo cartão e junto dele uma única e formosa rosa vermelha, queria ser o mais original possível. Chegando em casa lembrei que não era de uma família rica e que não tinha um emprego, logo, não teria dinheiro para comprar algo tão cedo, isso era um problema. Vi na floreira de minha mãe, em nosso jardim, uma mini-roseira, ela era tão bela quanto as grandes porém de tamanho reduzido, dando pequeninas rosas de um vermelho vivo, tinham talvez até mais charme que as grandes. Então resolvi dar a ela as pequenas rosas, afinal o que importava era a intenção e para alguém que nunca havia recebido flores, acho que pequenas rosas seriam suficientes para lhe fazer feliz.
    Então armei tudo, cortei uma pequena rosa e embrulhei-a em papel filme com uma fita de cetim, falando assim parece tosco, mas minhas habilidades manuais sempre foram maiores do que o normal, consegui fazer um bonito arranjo, por mais impossível que isso pareça. Fui para aula com a flor no bolso da minha calça do uniforme da escola, ia deixá-la em cima de sua carteira e com certeza ela perceberia que aquilo era coisa minha. Quando retirei a rosa do bolso, algumas pétalas haviam caído, resolvi não entregar naquele dia e ter mais cuidado com uma próxima flor que lhe levaria no dia seguinte, guardei novamente aquela no bolso e fingi para ela que não tinha planejado nada depois de nossa conversa.
    Dia seguinte, dessa vez não tinha como dar errado, afinal era só entregar uma flor. Peguei mais uma rosa, desta vez nem me preocupei com arranjos ou fitas, levei-a para o colégio e desta vez em minhas mãos. Deixei-a em cima de sua mesa e fui até o corredor para tomar água, encontrei-me com ela no caminho e senti que havia algo errado, ela estava muito mal-humorada, achei que algo poderia ter acontecido e ela estar brava comigo, preferi não arriscar, voltei rápido para sala tirei a flor de sua mesa, coloquei-a rapidamente no bolso, a fazer companhia para a que tinha deixado lá no dia anterior (na época eu tinha apenas uma calça do uniforme, elas eram caras, então usava-a a semana toda.) e nesse dia mal nos falamos.
   Dia após dia eu arrancava uma flor da pequenina roseira e, com o objetivo de conquistar aquela jovem, levava-a para a escola, incrivelmente, por algum motivo, nunca consegui “terminar o serviço” e entregar a rosa para a adorável Jéssica, num dia ela não foi para a aula, no outro eu achava que ela não me via como alguém a se relacionar e ficaria irritada com o presente (acho que isso foi insegurança demais da minha parte, mas o que eu podia fazer, era apenas um garoto do 2º ano colegial) e assim foi. Alguns dias passaram e acabaram-se as flores da pequena roseira, entendi a situação, não estava faltando o momento perfeito, faltava um homem. Desisti de conquistar aquela moça e no fim daquilo tudo, restaram apenas uma roseira sem flores e várias rosas secas em meu bolso.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Devaneios reencarnados.

   Um dia, eu conheci uma linda moça, ela era dona de belos olhos claros e um formoso e sedutor cabelo curto e ondulado. Uma perfeita forma de andar, de olhar e de falar, enfim, ela era perfeita em seu modo de agir, sempre associava sua imagem à de mulher ideal, ou o mais próximo disso que possa existir.
    Nesse mesmo dia, me apaixonei por essa moça, mas pelo jeito que falei acima, acho que já era de se esperar. Eu a olhava enquanto ela sorria e isso me fazia feliz, sua pele branca e suas mãos pequenas faziam meus olhos brilharem. Sempre ficava impressionado com o jeito como teimava com tudo e como levantava a mão, apontando-a para mim na altura do rosto, fazendo perguntas. Não sei ao certo, mas parecia que ela havia concluído com louvores no curso “Aprenda a encantar um tolo em 11 passos simples”, pois eu me prendi aquela mulher como um viciado, ela era meu vicio e isso não me parecia ruim.

   Depois de vários dias e encontros, fiquei próximo da moça que venho falando a algum tempo. Conversávamos sobre escrever, sobre paixão (nunca cheguei a contá-la o que sentia, seria certeza de fracasso, pelo menos na época), sobre sonhos, sejam eles oníricos ou não e um dia até combinamos de almoçar juntos, fiquei contente, achava que, pela primeira vez, uma moça pela qual eu havia me apaixonado estava me vendo como um homem a ser considerado, um “bom partido”, eu comecei a achar realmente que iria ser feliz, que teria filhos e uma casa num bairro com vizinhos e um gramado que regaria aos domingos e todas essas coisas que caras que acham a mulher de sua vida pensam. Estava perto, era a hora de falar a ela o que eu sentia.
    Então me preparei, tinha que ser a abordagem perfeita, não queria assustá-la, mas queria que ela soubesse o quanto era importante para mim. Começamos uma conversa, antes que pudesse falar qualquer coisa, ela me começa um monólogo irritante falando-me como reparava nos olhares de afeição de um homem e que queria estar do seu lado e ser importante para ele, obviamente, este homem não era eu. Minha alma doía, sentia meu peito sangrar por dentro e uma tristeza descomunal mastigava-me e digeria-me de modo cruel e demorado.
   Um dia, com uma arma na mão, fiquei a pensar demais numa moça, a que falava até agora. A imagem dela em minha mente castigava-me e sem agüentar puxei o gatilho contra minha própria cabeça. Posso jurar que consegui sentir o cheiro da pólvora enquanto tudo virava escuridão, tanto em meus pensamentos como em minha visão. Engraçado como as coisas são, eu que sou um ateu de marca maior, reencarnei (digo sou, pois tenho certeza que esquecerei tudo o que houve e voltarei a pensar da mesma forma). Renasci como um leve, inocente e frágil garoto do sul, filho de um casal apaixonado. Senti uma forte vontade de chorar, a lógica diz que foi o tapa do médico, eu digo que sofria por ela, ainda. Chorei um pouco, e entremeio alguns soluços fui parar no colo da minha nova mãe, ela parecia ser uma boa mulher, e a ferida que aquela moça deixou em mim, provavelmente sem saber, começou a curar, e eu me via mais calmo.

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Demorei para escrever e não creio que esteja bom, mas estou numa fase nada criativa, então conseguir escrever algo, já está sendo grande coisa.