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sábado, 25 de junho de 2011

Por que vingança não faz nosso estilo (ou faz).



   O jovem Francisco Miranda era um apaixonado, seus olhos sempre brilharam pela pequena Marina, não que ela fosse um esplendor de mulher, na verdade ela estava longe de ser linda para os padrões sociais, era baixa, gorda e sem charme, mas o estudante de história era simplesmente apaixonado, afinal, ele não seguia os padrões sociais. Ela não era exatamente carismática também, parecia que tudo era motivo para xingar, esbravejar e lutar. Chico achava que entendia o porquê, para ele, essa era a forma dela de lutar contra um mundo que sempre a pressionou, que sempre a frustrou e que sempre jogou na cara dela que naquela sociedade ela não tinha valor, talvez isso seja um dos motivos para Francisco se apaixonar.
    Com essa ideia de uma Marina que só está se defendendo do mundo, ele tentava mostrar a ela qualquer coisa em torno de amor, algo que ela parecia nunca ter conhecido, era gentil com a moça, não era gentil com muitas pessoas, podia-se contar nos dedos as pessoas que conheciam gentileza da parte de Chico e sem dúvida a mais privilegiada era a jovem, entretanto, ela não dava valor a isso, seus escudos estavam sempre erguidos, prontos para caso alguém tentasse brincar com ela, ele entendia isso, talvez até melhor que ela, também era mal visto pelo resto do mundo. O jovem sempre tentou de tudo que podia, chamava-a para sair, ela até aceitava, mais ficava fechada em seu casulo de rancor o tempo todo sem dar a mínima brecha para o calor do rapaz, elogiava seu jeito, seu corpo, sua maneira de se vestir, em vão, a moça acreditava que tudo era mentira e que aquilo era pura artimanha para acabar com ela de algum modo.
Chico era apaixonado, mais não era um derrotado, ele sentia o desprezo da moça, tentou ajudá-la, ela não via isso, ele também foi amargurando-se até que se cansou de correr atrás de uma pessoa que não queria ser alcançada e sofrendo a dor do abandono de uma paixão seguiu sua vida. Prometeu para si mesmo nunca mais mover um dedo sequer pela mulher que negara seu amor mesmo não tendo outras opções, negara seu amor pelo simples fato de ser ressecada e amargurada e não querer superar isso. 
***

   Cascavel é uma cidade peculiar no interior do Paraná, todos os bares e baladas ficam na mesma região e isso ao mesmo tempo em que atrai todos os jovens de todos os tipos para um mesmo lugar, também atrai todos que querem algo desses jovens, sendo com boas ou más intenções, até ali também. Chico estava num Pub conhecido nessa região, eram épocas de pindaíba, então tomou uma caneca de Chope e ia indo embora, ia ir a pé, nunca teve carro e ônibus naquela época era um luxo do qual ele não podia dispor, até por que naquele horário não deveria ter nenhuma linha passando.
    Descendo uma rua que dava acesso a uma avenida maior teve uma surpresa, coisa tão articulada que parecia obra de um destino no qual ele nem acreditava. Levou algum tempo para reconhecer, mas teve um choque ao ver Marina, sua paixão, sendo assaltada, era um só homem e desarmado, um “nóia”, como costumam chamar viciados em crack, estava aproveitando a situação de uma moça sozinha na rua, ele batia nela que lutava por seus pertences, o assaltante chamava-a de coisas como “vadia gorda”, “arrombada” e “biscate”, enquanto a jovem abraçando suas coisas caia ao chão. Várias coisas passaram pela cabeça de Francisco, coisas como salvar a moça e levá-la para casa, mostrando-a que a amava com um ato de bravura, ou, deixá-la lá sem nem olhar para trás, afinal prometeu não mover-se para ajudá-la nunca mais, entre outras várias atitudes que não são cabíveis de listagem no momento.
Então tomou sua decisão. Chegou por trás e prendeu o homem com uma "gravata" que tentou sem sucesso se soltar, Chico virou-o na direção do muro ao lado deles e jogou-o batendo sua cabeça contra a parede, após isso deu mais algumas pancadas até o homem sair correndo. Virou-se para a moça, ela chorava um pouco, não o suficiente para abaixar por completo sua armadura, ajudou-a a levantar.
   -Você está bem?
    -Obvio que não, mas obrigada, você meio que me salvou.
    Marina deu um abraço em Chico como se devesse algo a ele, não estava desorientada e queria carinho, estava apenas “pagando” por ter sido salva.
    -Meio? OK.
    Chico percebeu que a moça não tinha mudado desde que havia tomado sua decisão de não correr atrás dela e nem mesmo moveu os braços em torno da moça para retribuir o “pagamento”.
    -Vou indo, foi bom te ver.
    -Como assim vai indo? Vamos de volta pro bar pedir um táxi, mas não antes de bebermos algo juntos!
    Chico encara a moça com olhos de orgulho ferido.
    -Já bebi demais, vou pegar meu carro e ir embora.
    -Carro, não sabia que você tinha carro.
    Com uma cara de que não liga para a moça e já começando a andar Francisco responde.
    -Eu não tenho.
    Percebendo a situação, Marina põe-se a esbravejar contra Chico, perguntando quem ele pensava ser para rejeitá-la, ele por sua vez se mantém firme e continua andando, deixando para trás a moça por quem um dia fora apaixonado. Ele pensa todo o caminho até sua casa se fez o certo, sem atingir uma conclusão, chega em casa, toma um pouco de água e come um pão dormido com manteiga velha, dorme tranquilo e sonha que está voando. 

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