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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Junkie Girl.





  Noite de Sexta-feira nas quadras da UEM. Estava sentado em um banco do lado da quadra, com Carlos. Normalmente andávamos em um grupo maior, mas algo fez com que o resto dos boêmios sumissem, alguns estavam com tamanha ressaca que não conseguiram levantar no outro dia, outros estavam em lugares que nossa renda não permitiria estar, enfim, na ocasião éramos uma dupla. Estava sendo uma noite padrão, levemente engraçada, estávamos falando da nossa opinião sobre cada pessoa que lembrávamos do nosso curso, história, enquanto isso bebíamos um vinho barato comprado algum tempo antes na loja de bebidas mais próxima.
    Alguns bons goles de vinho, uma olhada ao redor para ver se não vinham guardas e retiro do meu bolso minha carteira, abro o bolso de moedas e retiro um pequeno embrulho, uma sacola de mercado rasgada e amarrada. Pego também uma nota e um cartão, coloco a carteira em cima de minhas gordas coxas, mais uma olhadela e despejo um pouco do conteúdo do amarrado em cima do couro da carteira, era pó, mas qualquer um que não seja idiota já deveria saber a essa altura da história. Com o cartão moldo duas linhas, duas levemente finas, demasiadamente brancas e venenosas linhas, enrolo a nota com maestria, faço isso há muito tempo para não ser bom, com uma mão levanto a peça de couro enquanto com a outra seguro a nota firmemente e enfio-a na minha, já machucada, narina. Pronto novamente, é hora do show, hora de encontrar aquele desencontro que só um bom drogado ou um louco conhece. Uma linha some e em troca um novo Francisco surge, mais sério, mais rápido, mais ele. Entrego a carteira e a nota a Carlos que faz o mesmo processo, mas com menos amor eu diria. A segunda linha some e “the life goes on”.
   Após mais algum tempo de conversa e pouca coisa a mais de meia garrafa, um momento de silêncio se faz, eu estava sem assunto e acho que o mesmo vale para o Carlos, até que o único motivo de estar escrevendo esse texto aparece. Ela aproximava-se pela rua que estava perpendicular a nós, cada passo que ela dava ia me clareando a visão, então consegui vê-la com nitidez. Era uma jovem, parecia sofrida, como se o estado em que se encontrava fosse o jeito de “queimar” suas amarguras, mas eu não posso afirmar isso com certeza, não sou íntimo dela, era baixa, algo em torno de 1,50 m, e estava claramente bêbada. Ela ia subindo a rua e cada vez chegando mais perto, levava nas mãos um moletom roxo, fumava um cigarro com toda a classe possível para uma bela bêbada, mas costumo dizer que toda classe de uma pessoa vira apenas pose diante da ebriedade, a moça usava um all-star preto todo sujo, parecendo até que veio pela lama do lugar onde estava enchendo a cara e que só havia começado a caminhar pelo pavimento há poucas quadras, era uma bêbada suja, imoral e displicente igualzinha a mim, porém, tinha um belo rosto, delicado apesar de machucado pela boêmia e um corpo atraente, nada de especial, só tinha um estilo bonito e com uma pele branca que me fazia sonhar.
    A moça foi chegando mais perto e um olhar entre nós dois foi trocado, dava para ver que tanto eu quanto Carlos estávamos interessados na garota, dava para ver também, pelo menos no meu ponto de vista, que ela se interessou por mim, aquele olhar, parecia que ela estava palpitando de vontade de parar e ter uma conversa agradável comigo! Uma conversa daquelas que se tem no domingo a tarde em frente à sua casa com uma cerveja na mão e ouvindo Jack Johnson. Ao mesmo tempo eu percebia uma paixão surgir em mim, isso ocorria com certa frequência, me apaixono e desapaixono como uma prostituta muda de homem, vi-me triste também, nunca fui do tipo que chamaria uma mulher desconhecida para sentar e conversar, não que fosse covarde ou algo assim, só não era um hábito muito comum a mim.
   Continuei a encarar a pequenina bêbada e via em sua face o anseio de parar, mas ela não faria isso, não ali, não naquela hora, era madrugada e por mais que poderia parecer interessante parar e conversar, ela deveria estar ansiosa para voltar para casa, além do que, ela não convidar-se-ia para uma conversa, seria indelicado para tão graciosa pessoa. Ela se foi, trançando as pernas da forma mais sexy e charmosa que já havia visto, pelo menos em alguém ébrio. Ao perdê-la totalmente de vista, voltei-me para Carlos.
    Ficamos vários minutos e o que restava de vinho discutindo sobre o que passava pela cabeça da nossa garota (nossa o caralho, minha!), se ela queria um, outro, ou os dois, se ela gostava de mordidas durante o sexo ou se era mais recatada, acho que nós estávamos montando uma imagem própria daquela moça em nossas mentes, uma imagem que poderia ou não ser parecida com a real, nunca iria saber, demos até um apelido para ela, Junkie Girl, a bêbada mais linda de todo o mundo maringaense.

   Como disse acima, o vinho havia acabado, porém, não havia saciado a nossa sede. Fomos atrás de mais, visitamos a mesma loja de onde havia vindo a garrafa anterior e estava fechada, foi broxante, apesar de ser a mais perto, não era tão perto assim, então demos meia volta e seguimos em direção a um posto de gasolina 24 horas que ficava seguindo em frente. Na metade do caminho estava passando pelo “Lanchão do Tonin”, como sempre faço, fui olhar as asquerosas faces que sempre ficam no meio da madrugada alimentando-se, são sempre pessoas decadentes, bêbados, agro boys que ficam conversando com o chapeiro ou nóias a pedir dinheiro. Não dessa vez. Não consigo me lembrar de nenhuma outra pessoa no lugar, só sei que ela estava lá, sentada de maneira tão meiga, a minha Junkie Girl, era linda, ao seu modo era a mais linda de todas. Tinha em suas mãos um lanche gigantesco se comparado com seu tamanho, parecia que ia ter dificuldades para comer aquilo, na verdade parecia ter dificuldade em segurar, ao passar olhei-a nos olhos, como se a mostrasse que apesar dela não saber, sou o homem da vida dela. Não parei, afinal, para essa ocasião continua valendo o mesmo da última, não a conhecia e durante a madrugada num lugar estranho não é o melhor jeito de conhecer gente nova.
   Chegamos ao posto, compramos mais uma garrafa de vinho barato (não tanto quanto na loja de bebidas), pedi ao balconista que abrisse para mim e o puto o fez reclamando, não me importei, contando que meu vinho estivesse aberto, ele poderia reclamar a noite toda. Seguimos de volta para a Universidade, iriamos passar novamente pela barraca de lanches, pensei em como olharia sua face novamente, em como faria com que se apaixonasse por mim, não iria acontecer, mas, sou muito bom em ter devaneios, troquei umas palavras com o Carlos sobre e vi que os dois tinham ficado encantados pela jovenzinha alcoolizada. Estava muito animado quando passamos pelo lanche pela segunda vez, estava, pois o lugar em que a garota sentava antes agora estava vazio, assim como minha alma naquele momento, se o maldito que estava no caixa estivesse agilizado em abrir aquele vinho, ou se eu apertasse o meu passo quando saímos do posto, de todo jeito, ela não estava mais lá e eu sofria por isso, de nada me valia todos aqueles bastardos montes de merda que estavam naquela porcaria de cachorrão, eu não queria eles, não procurava eles, eu queria apenas o ultimo e totalmente dentro da lei, encontro com a moça que pegou meu coração naquela noite, só queria vê-la mais uma vez, como se para despedir-me, afinal, não sabia se iria revê-la algum dia.
  Queria voltar para os bancos para afogar minhas mágoas recém-adquiridas, andamos um pouco após a barraca e tive uma surpresa. Um táxi parado, um motorista dentro com uma mulher de blusa roxa em seu colo, beijando-o como se ele fosse o ultima homem limpo do planeta. Não sei dizer se era realmente a minha garota, mas acho que seria bem a cara dela (da Junkie Girl que eu criei em minha mente) pegar o taxista em troca da viagem, não fiquei olhando muito, não quis atrapalhar, era escolha dela pegar o motorista e eu não poderia fazer nada, na verdade acho que nem me ofendi com isso, achei até excitante, se fosse ela a agarrar o homem naquele carro, ela formaria, para mim, uma imagem de mulher bandida e sôfrega que eu acho linda, estilo Marla Singer ou Júlia, todo modo, eu não estava triste por vê-la com outro, estava somente um tanto triste por não vê-la comigo. Voltamos para as quadras, e apesar de tudo, até chegar de volta aos bancos tinha um pingo de esperança que ela estaria lá a me esperar, com uma garrafa de vinho só para ela e um cigarro queimando, e dessa vez sorrindo. Obviamente foi um ato falho, e a única coisa que tinha a me esperar era um banco vazio e a fome, não de comida, presente em mim, novamente. Sentamos. Terminei com o pó que tinha. Terminei com o vinho que compramos, terminei com os cigarros e até mesmo com os assuntos, então após uma passada na padaria (já eram umas 6 da manhã nesse momento e o dia começara a amanhecer) para abastecer-me de cigarros fui para a velha pensão onde morava. Não sabia o que fazer no outro dia, não sei dizer até hoje se queria procurá-la e pelo menos saber seu nome, ou se a única coisa que queria dela era aquela noite de romance platônico, deixando a imagem que tinha dela intacta assim como a de uma deusa em minha mente. Aquele foi um dia interessante, hoje em dia vejo essa moça esporádicas vezes, nunca falei com ela, ela não me olha como se eu fosse especial para ela, mas ela nunca vai deixar de ser a minha Junkie Girl, e se um dia eu descobrir o nome dela, escrevo outro texto contando para quem estiver interessado.

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Bem, algumas explicações. Este texto é uma releitura do texto que deu origem a este blog (A paixão que te toma conta nas sextas-feiras), e consequentemente, o que me embalou a escrever. Nem tudo que tem neste texto condiz com a realidade, mas, não vou contar o que, descubram por si sós. Ando com dificuldade para criar, então estou pegando histórias não terminadas e tentando fazer delas algo bom. Não que eu tenha leitores o suficiente para fazer algo do tipo, mas ando com problemas e por isso me desculpo pela baixa produção. É isso, espero sinceramente que gostem.