Francisco acordou cedo, pela primeira vez em muito tempo. Sua mãe queria vê-lo, e para piorar decidiu levá-lo na missa. Mesmo sabendo que Chico era ateu, Dona Aurora, católica ferrenha, nunca desistia de converter o filho. Ele chega na igreja no horário, achou melhor marcar direto lá pois não gosta de ir na casa de sua mãe, sentou-se na ultima fileira e razoavelmente perto da porta enquanto sua mãe chega e senta ao lado. Trocam-se algumas palavras cotidianas, até que entra o padre anunciando o começo da cerimônia, todos silenciam-se e começa o ritual.
Alguns minutos de rito vão passando e Chico precisava ir fumar, já não ligava mais para o que sua mãe iria pensar, só queria fumar um cigarro. Passa por um casal atrasado, uma mulher de cabelo vermelho grávida e um homem alto, chega ao lado de fora e vai até a sarjeta. Três riscadas e o isqueiro não acende, o único jeito seria ir até o bar que ficava na esquina e comprar um novo. Chico não queria demorar, comprou logo o isqueiro, saiu e acendeu seu cigarro, ele fuma rápido, e no tempo de chegar novamente a porta da igreja ele termina sua dose horária de fumaça e entra mal humorado na igreja, ele não queria estar ali, e queria que aquilo acabasse logo.
Francisco senta no banco e diferente do que esperava, sua mãe não falou nada sobre sua saída, porém diferente dela, um fiel, que estava no banco da frente ao dele, irrita-se com a volta do jovem que está cheirando a cigarro.
-Isso são horas de entrar na igreja rapaz!
-Você não viu que eu tô aqui faz tempo seu babaca! Antes mesmo do senhor falar qualquer coisa, o fumante irritado tasca-lhe um soco na cara, não estava com paciência para aquela chatice toda. Logo ouviam-se os gritos e os empurrões, todos contra Francisco, coisas do tipo “vá embora da casa do senhor!” ou “ maldito pecador” eram ouvidos até do lado de fora da igreja. Mais ele não se importava, o que Chico queria era simplesmente sair dali.
Sua mãe sai da igreja envergonhada e de cabeça baixa, ela dá um tapa no rosto de Chico.
-Vira homem rapaz, nunca aparece e quando vem faz dessas! Vou embora, você que vá cuidar da sua vida!
-Foda-se, só quero dormir!
Enquanto sua mãe vai embora, Francisco acende outro cigarro, vai até o bar em que havia comprado o isqueiro, pede um dose dupla de conhaque, bebe, dá em cima da garçonete sem muito sucesso e vai para casa dormir, tinha acordado cedo.
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