A
grande maioria das pessoas despreza os botecos de bairro, aqueles com a
fachada patrocinada por alguma marca de cerveja e que geralmente são
comandados por um velhinho e sua prole. Por não entenderem a
complexidade do barzinho quanto instituição ou simplesmente por não
acharem esteticamente belos, as pessoas passam despercebidas por esses
locais, deixando de absorver uma carga cultural de grandeza admirável. O
que quero explicar aqui é a forma desenvolvida e hierárquica dos
botecos enquanto instituição social e fonte de entretenimento de
determinados grupos.
Começarei pelo nome. O nome do bar pertencente a um tiozinho, sempre possuirá o nome do mesmo, tendo o objetivo de mostrar quem domina o território, exemplo semelhante temos em Castela (Reino da península Ibérica que hoje pertence ao território espanhol, chamado Reino de Castela devido ao nome da família real), percebem a inspiração histórica de todos os anciões criadores de bares de bairro? O dono do bar pode ser comparado a um monarca, pois, rege as leis do estabelecimento e domina a política local, controlando coisas como economia (fazer ou não fiado, o tamanho do desconto ou acréscimo de acordo com o nível etílico de cada cliente, os impostos sobre as mesas de sinuca e baralho, etc.), alimentação (avisando a velhinha que costuma ser sua esposa de que as coxinhas, ovos de codorna ou queijos em nó acabaram, solicitando-a nova remessa), entretenimento para a população (manutenção dos baralhos, garantia de uma mesa de sinuca íngreme e música de qualidade duvidosa tocando todo momento) entre outras funções cabíveis a um rei de respeito.
Começarei pelo nome. O nome do bar pertencente a um tiozinho, sempre possuirá o nome do mesmo, tendo o objetivo de mostrar quem domina o território, exemplo semelhante temos em Castela (Reino da península Ibérica que hoje pertence ao território espanhol, chamado Reino de Castela devido ao nome da família real), percebem a inspiração histórica de todos os anciões criadores de bares de bairro? O dono do bar pode ser comparado a um monarca, pois, rege as leis do estabelecimento e domina a política local, controlando coisas como economia (fazer ou não fiado, o tamanho do desconto ou acréscimo de acordo com o nível etílico de cada cliente, os impostos sobre as mesas de sinuca e baralho, etc.), alimentação (avisando a velhinha que costuma ser sua esposa de que as coxinhas, ovos de codorna ou queijos em nó acabaram, solicitando-a nova remessa), entretenimento para a população (manutenção dos baralhos, garantia de uma mesa de sinuca íngreme e música de qualidade duvidosa tocando todo momento) entre outras funções cabíveis a um rei de respeito.
Ao
lado do nosso monarca de boteco temos sua esposa, a senhora que
normalmente tem uma voz exageradamente alta e aguda, ela é responsável
pelas funções de limpeza e preparação dos quitutes que só um bom bar de
tio possui, normalmente elas tem nomes curtos e de fácil pronúncia para
auxílio dos bêbados (Edna, Maria, Perina). Ao lado dela temos em alguns
casos as filhas do monarca, que são quase sempre muito cobiçadas dentro
do local, tendo em vista que é rara a presença feminina. Muitos monarcas
tendem a privar o espaço das "princesas" colocando-as presas na cozinha
auxiliando a mãe, evitando assim contatos indesejados com os
frequentadores, possivelmente pervertidos ou apenas necessitados de
sexo, do local. Enquanto isso, os filhos homens do velhinho, tendem a
melhorar suas habilidades nas supracitadas sinuca e jogos de baralho em
geral, e auxiliar o pai no papel de servir os frequentadores do local,
eles também podem desenvolver-se nas atividades com drinks, aprendendo
por exemplo a fazer o famosíssimo rabo de galo ou a deliciosa e clássica
caipirinha, assim sendo, os filhos homens são o grupo mais eclético de
todo o “reino”.
Saindo da elite dominante chegamos às classes distintas de clientes, temos vários tipos diferentes que circulam pelo lugar. De começo, na beira do balcão temos os clientes mais assíduos, estes sempre ficam ali, bebendo diversos tipos de bebidas, consumindo variadas guloseimas e aperitivos e conversando diretamente com o dono do bar (não que as outras classes não falem com o rei, é que esta mantém-se mais "próxima" da figura monárquica), eles têm boa relação política com todas as outras classes, mantendo-se neutros nas disputas que ocorrem dentro do boteco, alguns membros dessa classe tendem a esporadicamente frequentar as mesas de sinuca ou baralho como forma de entretenimento, afinal a politicagem e a conversa fiada podem entediar.
Saindo da elite dominante chegamos às classes distintas de clientes, temos vários tipos diferentes que circulam pelo lugar. De começo, na beira do balcão temos os clientes mais assíduos, estes sempre ficam ali, bebendo diversos tipos de bebidas, consumindo variadas guloseimas e aperitivos e conversando diretamente com o dono do bar (não que as outras classes não falem com o rei, é que esta mantém-se mais "próxima" da figura monárquica), eles têm boa relação política com todas as outras classes, mantendo-se neutros nas disputas que ocorrem dentro do boteco, alguns membros dessa classe tendem a esporadicamente frequentar as mesas de sinuca ou baralho como forma de entretenimento, afinal a politicagem e a conversa fiada podem entediar.
Agora
temos duas classes rivais, podemos considerá-los a classe média dos
botecos, estes são os jogadores de sinuca de um lado, digladiando-se com
os apreciadores das artes do baralho de outro, em um bom bar de bairro
com nome de senhor, sempre haverá disputas por espaço e reclamações por
parte dos baralhistas (palavra em que estou em dúvida acerca da
existência) e dos sinuqueiros (palavra que eu tenho certeza que não
existe, porém a usarei na falta de termo melhor). Os jogadores de
baralho costumam reclamar das tacadas por acidente (ou não) que levam
enquanto os apreciadores do bilhar reclamam da falta de espaço e da
esbórnia dos truqueiros, pokeiros e cacheteiros.
Temos
mais personagens nessa complexa estrutura butequística, mas a demanda
de tempo necessária para falar sobre elas é alem de minha capacidade
atual. Assim sendo, por último vou falar sobre a classe mais abalada
pelos males do mundo em todo o boteco, os bêbados que ficam na porta do
bar ou no banheiro. Estes são os párias do local, o monarca tende a ter
certo apreço por eles, mas também os ignora a fim de manter a paz no
recinto. Eles têm toda uma cultura própria, nela encontramos tradições
fortemente enraizadas, como por exemplo, cantar (xavecar, mexer) todos
os seres possuidores de vagina que passam em frente ao bar. Uma
curiosidade acerca desse costume é que ele limita-se ao falar, ou seja,
eles sempre partem do pressuposto que a pessoa do sexo oposto vai
ignorá-lo, sendo assim no caso de serem desafiados a cumprir o que
prometem no xaveco, (a expressão usada por eles “ô lá em casa” ilustra
isso) é comum que o bêbado decline, passando assim a imagem de covarde
que está entrelaçada psicologicamente a ele. O mau cheiro em grande
parte das vezes acompanha essa classe como um fiel cão acompanha seu
dono, sendo estas uma de suas características mais conhecidas. Um
último, mas não menos importante aspecto da cultura da cachaça (termo
cunhado pelo grande sociólogo Gilberto Irmão, também conhecido como Gil
Brother ou Away de Petrópolis, grande estudioso da classe bêbada nos
botecos de toda província do Rio de Janeiro no tempo do Império) é a sua
capacidade migratória, eles tendem a criar rotas saindo de suas casas
passando por vários, as vezes dezenas de bares com nome de velhinho,
estabelecendo assim a embriaguez total e então começarem a difícil
jornada de volta para casa, lendas antigas dessa classe dizem que essa é
uma tradição inspirada no movimento migratório dos albatrozes, espécie
em que a migração serve de seleção natural, excluindo os indivíduos com
menor capacidade de sobrevivência.
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Um pouco diferente do meu habitual estilo de escrita. Dedicado a Elô do elosuda.tumblr que me ajudou com conversas mistícas.
Um simples comentario, nunca li uma descrição tão boa sobre bares, botecos, budegas e afins ahsuahsauhs, e a comparação histórica ficou ótima...de Parabens pelo texto mais uma vez Paulo
ResponderExcluircontinue assim...bjoo