Noite de Sexta-feira
nas quadras da UEM. Estava sentado em um banco do lado da quadra, com
Carlos. Normalmente andávamos em um grupo maior, mas algo fez com
que o resto dos boêmios sumissem, alguns estavam com tamanha ressaca
que não conseguiram levantar no outro dia, outros estavam em lugares
que nossa renda não permitiria estar, enfim, na ocasião éramos uma
dupla. Estava sendo uma noite padrão, levemente engraçada,
estávamos falando da nossa opinião sobre cada pessoa que
lembrávamos do nosso curso, história, enquanto isso bebíamos um
vinho barato comprado algum tempo antes na loja de bebidas mais
próxima.
Alguns bons goles de
vinho, uma olhada ao redor para ver se não vinham guardas e retiro
do meu bolso minha carteira, abro o bolso de moedas e retiro um
pequeno embrulho, uma sacola de mercado rasgada e amarrada. Pego
também uma nota e um cartão, coloco a carteira em cima de minhas
gordas coxas, mais uma olhadela e despejo um pouco do conteúdo do
amarrado em cima do couro da carteira, era pó, mas qualquer um que
não seja idiota já deveria saber a essa altura da história. Com o
cartão moldo duas linhas, duas levemente finas, demasiadamente
brancas e venenosas linhas, enrolo a nota com maestria, faço isso há
muito tempo para não ser bom, com uma mão levanto a peça de couro
enquanto com a outra seguro a nota firmemente e enfio-a na minha, já
machucada, narina. Pronto novamente, é hora do show, hora de
encontrar aquele desencontro que só um bom drogado ou um louco
conhece. Uma linha some e em troca um novo Francisco surge, mais
sério, mais rápido, mais ele. Entrego a carteira e a nota a Carlos
que faz o mesmo processo, mas com menos amor eu diria. A segunda
linha some e “the life goes on”.
Após
mais algum tempo de conversa e pouca coisa a mais de meia garrafa, um
momento de silêncio se faz, eu estava sem assunto e acho que o mesmo
vale para o Carlos, até que o único motivo de estar escrevendo esse
texto aparece. Ela aproximava-se pela rua que estava perpendicular a
nós, cada passo que ela dava ia me clareando a visão, então consegui
vê-la com nitidez. Era uma jovem, parecia sofrida, como se o estado em
que se encontrava fosse o jeito de “queimar” suas amarguras, mas eu não
posso afirmar isso com certeza, não sou íntimo dela, era baixa, algo em
torno de 1,50 m, e estava claramente bêbada. Ela ia subindo a rua e cada
vez chegando mais perto, levava nas mãos um moletom roxo, fumava um
cigarro com toda a classe possível para uma bela bêbada, mas costumo
dizer que toda classe de uma pessoa vira apenas pose diante da
ebriedade, a moça usava um all-star preto todo sujo, parecendo até que
veio pela lama do lugar onde estava enchendo a cara e que só havia
começado a caminhar pelo pavimento há poucas quadras, era uma bêbada
suja, imoral e displicente igualzinha a mim, porém, tinha um belo rosto,
delicado apesar de machucado pela boêmia e um corpo atraente, nada de
especial, só tinha um estilo bonito e com uma pele branca que me fazia
sonhar.
A moça foi chegando mais perto e um olhar entre nós dois foi trocado, dava para ver que tanto eu quanto Carlos estávamos interessados na garota, dava para ver também, pelo menos no meu ponto de vista, que ela se interessou por mim, aquele olhar, parecia que ela estava palpitando de vontade de parar e ter uma conversa agradável comigo! Uma conversa daquelas que se tem no domingo a tarde em frente à sua casa com uma cerveja na mão e ouvindo Jack Johnson. Ao mesmo tempo eu percebia uma paixão surgir em mim, isso ocorria com certa frequência, me apaixono e desapaixono como uma prostituta muda de homem, vi-me triste também, nunca fui do tipo que chamaria uma mulher desconhecida para sentar e conversar, não que fosse covarde ou algo assim, só não era um hábito muito comum a mim. Continuei a encarar a pequenina bêbada e via em sua face o anseio de parar, mas ela não faria isso, não ali, não naquela hora, era madrugada e por mais que poderia parecer interessante parar e conversar, ela deveria estar ansiosa para voltar para casa, além do que, ela não convidar-se-ia para uma conversa, seria indelicado para tão graciosa pessoa. Ela se foi, trançando as pernas da forma mais sexy e charmosa que já havia visto, pelo menos em alguém ébrio. Ao perdê-la totalmente de vista, voltei-me para Carlos.
Ficamos vários minutos e o que restava de vinho discutindo sobre o que passava pela cabeça da nossa garota (nossa o caralho, minha!), se ela queria um, outro, ou os dois, se ela gostava de mordidas durante o sexo ou se era mais recatada, acho que nós estávamos montando uma imagem própria daquela moça em nossas mentes, uma imagem que poderia ou não ser parecida com a real, nunca iria saber, demos até um apelido para ela, Junkie Girl, a bêbada mais linda de todo o mundo maringaense.
A moça foi chegando mais perto e um olhar entre nós dois foi trocado, dava para ver que tanto eu quanto Carlos estávamos interessados na garota, dava para ver também, pelo menos no meu ponto de vista, que ela se interessou por mim, aquele olhar, parecia que ela estava palpitando de vontade de parar e ter uma conversa agradável comigo! Uma conversa daquelas que se tem no domingo a tarde em frente à sua casa com uma cerveja na mão e ouvindo Jack Johnson. Ao mesmo tempo eu percebia uma paixão surgir em mim, isso ocorria com certa frequência, me apaixono e desapaixono como uma prostituta muda de homem, vi-me triste também, nunca fui do tipo que chamaria uma mulher desconhecida para sentar e conversar, não que fosse covarde ou algo assim, só não era um hábito muito comum a mim. Continuei a encarar a pequenina bêbada e via em sua face o anseio de parar, mas ela não faria isso, não ali, não naquela hora, era madrugada e por mais que poderia parecer interessante parar e conversar, ela deveria estar ansiosa para voltar para casa, além do que, ela não convidar-se-ia para uma conversa, seria indelicado para tão graciosa pessoa. Ela se foi, trançando as pernas da forma mais sexy e charmosa que já havia visto, pelo menos em alguém ébrio. Ao perdê-la totalmente de vista, voltei-me para Carlos.
Ficamos vários minutos e o que restava de vinho discutindo sobre o que passava pela cabeça da nossa garota (nossa o caralho, minha!), se ela queria um, outro, ou os dois, se ela gostava de mordidas durante o sexo ou se era mais recatada, acho que nós estávamos montando uma imagem própria daquela moça em nossas mentes, uma imagem que poderia ou não ser parecida com a real, nunca iria saber, demos até um apelido para ela, Junkie Girl, a bêbada mais linda de todo o mundo maringaense.
Como
disse acima, o vinho havia acabado, porém, não havia saciado a nossa
sede. Fomos atrás de mais, visitamos a mesma loja de onde havia vindo a
garrafa anterior e estava fechada, foi broxante, apesar de ser a mais
perto, não era tão perto assim, então demos meia volta e seguimos em
direção a um posto de gasolina 24 horas que ficava seguindo em frente.
Na metade do caminho estava passando pelo “Lanchão do Tonin”, como
sempre faço, fui olhar as asquerosas faces que sempre ficam no meio da
madrugada alimentando-se, são sempre pessoas decadentes, bêbados, agro
boys que ficam conversando com o chapeiro ou nóias a pedir dinheiro. Não
dessa vez. Não consigo me lembrar de nenhuma outra pessoa no lugar, só
sei que ela estava lá, sentada de maneira tão meiga, a minha Junkie
Girl, era linda, ao seu modo era a mais linda de todas. Tinha em suas
mãos um lanche gigantesco se comparado com seu tamanho, parecia que ia
ter dificuldades para comer aquilo, na verdade parecia ter dificuldade
em segurar, ao passar olhei-a nos olhos, como se a mostrasse que apesar
dela não saber, sou o homem da vida dela. Não parei, afinal, para essa
ocasião continua valendo o mesmo da última, não a conhecia e durante a
madrugada num lugar estranho não é o melhor jeito de conhecer gente
nova.
Chegamos
ao posto, compramos mais uma garrafa de vinho barato (não tanto quanto
na loja de bebidas), pedi ao balconista que abrisse para mim e o puto o
fez reclamando, não me importei, contando que meu vinho estivesse
aberto, ele poderia reclamar a noite toda. Seguimos de volta para a
Universidade, iriamos passar novamente pela barraca de lanches, pensei
em como olharia sua face novamente, em como faria com que se apaixonasse
por mim, não iria acontecer, mas, sou muito bom em ter devaneios,
troquei umas palavras com o Carlos sobre e vi que os dois tinham ficado
encantados pela jovenzinha alcoolizada. Estava muito animado quando
passamos pelo lanche pela segunda vez, estava, pois o lugar em que a
garota sentava antes agora estava vazio, assim como minha alma naquele
momento, se o maldito que estava no caixa estivesse agilizado em abrir
aquele vinho, ou se eu apertasse o meu passo quando saímos do posto, de
todo jeito, ela não estava mais lá e eu sofria por isso, de nada me
valia todos aqueles bastardos montes de merda que estavam naquela
porcaria de cachorrão, eu não queria eles, não procurava eles, eu queria
apenas o ultimo e totalmente dentro da lei, encontro com a moça que
pegou meu coração naquela noite, só queria vê-la mais uma vez, como se
para despedir-me, afinal, não sabia se iria revê-la algum dia.
Queria
voltar para os bancos para afogar minhas mágoas recém-adquiridas,
andamos um pouco após a barraca e tive uma surpresa. Um táxi parado, um
motorista dentro com uma mulher de blusa roxa em seu colo, beijando-o
como se ele fosse o ultima homem limpo do planeta. Não sei dizer se era
realmente a minha garota, mas acho que seria bem a cara dela (da Junkie
Girl que eu criei em minha mente) pegar o taxista em troca da viagem,
não fiquei olhando muito, não quis atrapalhar, era escolha dela pegar o
motorista e eu não poderia fazer nada, na verdade acho que nem me ofendi
com isso, achei até excitante, se fosse ela a agarrar o homem naquele
carro, ela formaria, para mim, uma imagem de mulher bandida e sôfrega
que eu acho linda, estilo Marla Singer ou Júlia, todo modo, eu não
estava triste por vê-la com outro, estava somente um tanto triste por
não vê-la comigo. Voltamos para as quadras, e apesar de tudo, até chegar
de volta aos bancos tinha um pingo de esperança que ela estaria lá a me
esperar, com uma garrafa de vinho só para ela e um cigarro queimando, e
dessa vez sorrindo. Obviamente foi um ato falho, e a única coisa que
tinha a me esperar era um banco vazio e a fome, não de comida, presente
em mim, novamente. Sentamos. Terminei com o pó que tinha. Terminei com o
vinho que compramos, terminei com os cigarros e até mesmo com os
assuntos, então após uma passada na padaria (já eram umas 6 da manhã
nesse momento e o dia começara a amanhecer) para abastecer-me de
cigarros fui para a velha pensão onde morava. Não sabia o que fazer no
outro dia, não sei dizer até hoje se queria procurá-la e pelo menos
saber seu nome, ou se a única coisa que queria dela era aquela noite de
romance platônico, deixando a imagem que tinha dela intacta assim como a
de uma deusa em minha mente. Aquele foi um dia interessante, hoje em
dia vejo essa moça esporádicas vezes, nunca falei com ela, ela não me
olha como se eu fosse especial para ela, mas ela nunca vai deixar de ser
a minha Junkie Girl, e se um dia eu descobrir o nome dela, escrevo
outro texto contando para quem estiver interessado.
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Bem,
algumas explicações. Este texto é uma releitura do texto que deu origem
a este blog (A paixão que te toma conta nas sextas-feiras), e
consequentemente, o que me embalou a escrever. Nem tudo que tem neste
texto condiz com a realidade, mas, não vou contar o que, descubram por
si sós. Ando com dificuldade para criar, então estou pegando histórias
não terminadas e tentando fazer delas algo bom. Não que eu tenha
leitores o suficiente para fazer algo do tipo, mas ando com problemas e
por isso me desculpo pela baixa produção. É isso, espero sinceramente
que gostem.