Naquela época eu era muito novo, devia ter uns 7 ou 8 anos. Morava perto de um cemitério e por mais que durante o dia eu passasse pelo lugar para ir à escola , quando a noite vinha, eu tinha pesadelos, pavor total, temia o simples ato de ir dormir, pois tinha certeza que o terror noturno viria. Eu era muito novo, numa época em que ser novo não era sinônimo de tranqüilidade, mas ainda assim conseguia ver felicidade em algumas coisas no mundo.
Eu raramente tomava ônibus, parei de fazê-lo quando começaram a duvidar da minha idade e a tentar cobrar passagem, eu não tinha dinheiro pra isso então fazia minhas coisas a pé, isso é, se um garoto de 8 anos tem coisas a fazer além de ir a escola e tentar roubar bolachas no mercado. Porém, naquele dia em especial estava saindo com minha mãe, logo, iríamos de ônibus, não lembro para onde íamos, mas isso não importa. Chegamos ao ponto e tinha uma moça lá, não sei dizer se a imagem que tenho dela é uma construção da minha mente ou a realidade, mas no que me lembro dela, era uma bela moça jovem, de cabelos castanho-escuros e cacheados e olhos marrons e pele branca e roupa bonita e seios fartos, mas acho que os seios eu adicionei a minha memória (ou simplesmente reparei) com o passar dos anos.
A jovem tinha um ar meigo e como toda moça bonita de cidade mais ou menos pequena não resistiu ao meu charme de gordinho remelento e comigo veio falar, normalmente sou fechado até me acostumar com as pessoas, digo no presente, pois isso se mantém assim desde aquela época, mas com aquele ser me senti a vontade desde o início, deve ter sido os peitos dela, sempre são os peitos, até hoje me sinto relaxado perto de moças com belos peitos, mas isso não vem ao caso, continuando. Ela tinha a voz doce igual à de uma cantora lírica e com seu jeito risonho pediu meu nome, respondi levemente envergonhado. Enquanto estava me perguntado abaixou-se, apoiando-se nos próprios joelhos, acho que é um gesto comum quando mulheres falam com crianças, mas ficou na minha cabeça.
Ela tinha, para mim, uma aura incomum, não sei dizer bem, mas ela parecia ser quase uma criatura mágica, eu tinha até a impressão de que a luz refletia de modo diferente em sua linda pele, se fosse mais culto na época a associaria a uma ninfa. Então, ela fez o que a fez ficar em minha memória, a mulher levantou-se e esticou seu dedo na direção de uma pequena borboleta colorida que estava por ali voando, não sei como, mas a vendida da borboleta pousou em seu pequeno e branco dedo. Juro, juro pela caralha que quem estiver lendo isso escolher que a borboleta pousou no indicador da mulher. Imagine o impacto disso na minha mente pueril, fiquei a imaginar qual a bruxaria que aquela guria estava usando, até que, ela olhou para mim e vendo minha fascinação pela ação abaixou-se novamente, agora com o pequenino inseto ainda em seu dedo, parecia que além de tudo que já havia feito, ela conseguia ler minha mente.
-Você quer tentar? Pedia a moça sorrindo.
-Sim. Respondia o pequeno eu. –Mas como eu faço?
-Estique seu dedo na direção dela querido, se ela gostar de você, quem sabe ela não vai até aí para vocês conversarem. Ela continuava a sorrir e me deixava cada vez mais encantado.
Eu fiz exatamente o que aquela linda moça falou, mas, a biscate da borboleta não moveu-se um centímetro na minha direção.
-Ela não gosta de mim. Por que?
-Animais sentem o amor de homenzinhos como você, se você a amasse, ela poderia ir até aí. Você a ama?
-Sim, eu acho, bem, não sei. Como isso funciona? Começava a me sentir débil diante da moça.
-Acalme-se pequeno, quando você for grande irá entender, agora vamos deixar que ela vá e descanse.
Fiquei intrigado, mas até que aceitei a idéia de não conseguir fazer uma borboleta escrota pousar no meu dedo. O nosso ônibus chegou, eu e minha mãe entramos, mas não sei dizer se a moça nos seguiu, mas não importava mais, ela já havia entrado nas minhas memórias.
Volta e meia acabo por pensar naquela moça, nunca vou saber se era um anjo ou apenas uma hippie louca, entretanto, acho que ela sabia de meu futuro, pois ainda hoje, não entendo o amor, pelo menos não o bastante para atrair alguém até mim e provavelmente a vagabunda sabia que eu nunca passaria de 1.69m, ou seja, nunca vou ser grande o bastante para porcaria nenhuma.