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domingo, 15 de abril de 2012

Um quase romance.



   Ela sempre elogia minhas habilidades de comunicação, diz que nas artes das palavras escritas e faladas eu sou magnífico. Ela é uma mulher que sabe levantar os ânimos de um homem.
    É costume jantarmos juntos uma ou duas vezes por semana, em dias a combinar, afinal, não somos um casal e não existe sentido em cair na rotina como se fossemos. Era sempre eu que cozinhava, sou um ótimo cozinheiro e obviamente ficamos em minha casa nesses encontros, sou o tipo que não gosta de expor suas intimidades, diria que sou caseiro.
    Não sei ser indelicado com mulheres, assim sendo, não tenho o costume de ficar fazendo perguntas, principalmente se não quero realmente saber a resposta, logo, não sabia muito do passado dela, mas isso não me incomoda, ela me faz feliz e como prega a obra de George Orwell, Ignorância é força. Para ser sincero, eu devo dizer que Valentina é o relacionamento perfeito para um homem com tempo e dinheiro de sobra, como eu. Ela adapta-se a mim.
    Estávamos lá, eu, ela e um frango com champanhe, que foi muito bem feito por sinal. Enquanto comia ela era graciosa, era também quando sentava no balcão da cozinha balançando suas lindas e jovens pernas e vendo-me cortar cebolas, não, nessa hora ela é sexy. Todo modo, ela intercalava entre estar graciosa, ser sexy e outro estado que somava os dois adjetivos supracitados e adicionava ainda mais lascívia, esse modo ela usava quando estávamos na cama.
    Sem nenhuma modéstia, minha receita ficou sensacional e após comermos, levei-a a sala de TV para assistirmos a um filme. Nosso relacionamento é simples e gostoso, sem complicações. Assistimos “Breakfast at tiffany’s” e ela derreteu-se toda, entendo pouco de filmes, mas já sabia que isso iria acontecer e me senti o senhor da situação de um jeito que só me sinto com ela. 
    Fomos para meu quarto, assim como pedi a empregada colocou os lençóis de seda, sabia que ela iria adorar. Ela tem estatura baixa, fácil de mover, joguei-a na cama, selvageria é necessária em algumas horas da vida. Fiz questão de despi-la peça a peça enquanto mordiscava seu corpo tenro, entretanto não o fiz antes de dar-lhe um molhado beijo no qual não senti da parte dela muito fervor, não sei ao certo, pareceu-me faltar paixão. Éramos íntimos a um bom tempo e eu gostava dela, ignorei o sentimento, só podia ser impressão minha. Continuei, desci pelo seu pescoço enchendo-lhe de mordidas leves e beijos e pedindo-lhe afirmações do seu tesão, por sua vez, ela confirmava ferozmente. Tirei sua blusa preta de um tecido que não faço ideia do que seja, mas que deixava o ato de tocar seus seios algo mais confortável e gostoso do que já era, ao terminar de passar a peça por seu pescoço vi seus majestosos seios e me senti ouriçado. Fui até suas fenomenais coxas e retirei a curta saia que ela vestia com uma velocidade além da humana. Eu estava agora latejando, não falei antes, mas havia tomado uma daquelas pílulas que ajudam pessoas mais maduras como eu em suas funções de homem. “Ela vai entender minha pressa, ela sempre entende” foi meu pensamento e, sem muitas delongas nas degustações de carne úmida, montei nela.
    Estocada atrás de estocada, seus gemidos iam aumentando de frequência e volume e pedindo por mais vigor suas palavras luxuriosas iam entrando cada vez mais rápido em minha mente. Alcancei meu êxtase depois de algum tempo, creio que não muito, ejaculei em boa parte do seu corpo, essas atitudes fazem eu me sentir mais homem, senti-me feliz e ela parecia não importar-se quando eu o fazia.

   Chamei-a para um banho, ela recusou enquanto limpava-se com o lençol e colocava suas roupas, recusou educadamente, disse que precisava já eram altas horas e ela precisava cuidar do Gustavinho, seu pequeno filho. Não insisti, sei a hora de deixá-las ir. Com ela, ainda nu (mandei os empregados saírem da casa por algumas horas), fui até o escritório, servi-me de um ótimo scotch e sentei-me em minha cadeira fazendo sinal para que ela sentasse também, ela obedeceu e cruzou suas pernas de uma maneira sexy. “Não vou prendê-la mais aqui meu bem.” Era o que eu falava enquanto terminava minha assinatura, “Faça bom uso, é bastante dinheiro!”, concluí entregando um cheque a Valentina, que com seu lindo sorriso a mostra respondeu “generoso como sempre, obrigado”, virou, rodando seus lisos e longos cabelos negros e foi-se para suas obrigações de mãe. Aos poucos meus empregados foram reaparecendo, terminei a bebida e fui dormir, ser viril e digno a uma moça 30 anos mais nova é algo que cansa um homem da minha idade.
***
   Vou ser breve, pois isso não é uma despedida e sim um aviso de mudança. Devido a motivos que não valem a pena mencionar estou anunciando a paralisação total de postagens no "Histórias de Drogado", dando apenas um exemplo, eu não escrevo mais apenas histórias de drogado e na verdade elas vem se apresentando cada vez menos por aqui. Todo modo, em breve irei criar um novo blog e provavelmente com parceiros, pois, assim a divulgação fica mais fácil e tudo o mais. Sem mais delongas, foi bom escrever aqui e não pararer de fazê-lo, então provavelemente o próximo e ultimo post do "HD" será apenas para publicar o endereço de meu novo local. Beijos gregos.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Caçada.



   Era uma boate, tinha seguranças parrudos na porta e uma luz vermelha, que lembrava aquelas salas de revelação de fotos e contrastava com frequentes flashes de uma lâmpada fortíssima. Uma música eletrônica alta tocava, casais dançavam e eu sentia minha gravata apertando meu pescoço ébrio, no balcão do bar eu suava, e quanto mais daquele bendito uísque eu bebia, mais eu suava e mais apertada a gravata parecia, não sabia dizer se os dois fatos tinham relação, mas soltei a gravata igual, executivos só precisam manter a pose em seus escritórios e onde podem ser filmados, ali eu não precisava ser apresentável, ali até mesmo eu, diretor de uma das maiores multinacionais instaladas no país, era anônimo.
    A gravata estava solta, minha camisa molhada e minha lascívia pediam espaço, eu já estava bêbado, agora queria transar. Os tolos poderiam pensar o motivo de eu não ir para minha casa e, como dizem nas novelas, fazer amor com minha mulher, a estes eu respondo de forma breve, quando se tem poder, como eu tenho, quando se é um predador nato do sexo oposto, como eu sou, exercício é fundamental, isso me mantém bom nos negócios, isso me mantém bom como homem.
   Resolvi começar a procurar a vítima da noite, era sempre simples quando passava da meia-noite, todos estavam bêbados e manipuláveis, eu também estava bêbado, mas não era um qualquer, não costumo ser manipulado. A vi. E mesmo distante eu sabia, no fim da noite estaria com ela e em uma cama. De começo ela tentou disfarçar, passava sua mão pequena naqueles cabelos lisos e que se revelaram vermelhos assim que o flash fez seu trabalho novamente, me olhava de canto por um curto período de tempo e então se desvencilhava de minhas fintas. Usei de minha tática costumeira, comecei um pequeno diálogo com uma mulher qualquer, nem mesmo lembro de seu rosto, só queria criar uma zona perfeita, mostrar que não estava dependendo da aceitação dela, e então chegar em quem realmente interessava. Para minha surpresa, e deveria dizer alegria também, ela não caíra em minha “jogada do pastor” e assim que comecei a conversar com a outra ela claramente fingiu-se não se importar e começou a dançar com um homem que por lá perto estava. Ela era uma jogadora como eu, não tão boa, um tanto previsível, mas ainda assim era. Senti-me diretamente provocado, parecia que aquela mulher tinha entrado na minha cabeça, colocado uma imagem sua e deixado uma ordem para cada célula do meu corpo, e essa ordem era “deseje-a”, e varão como sou, desejei. Ao perceber que minha tática usual não funcionara, chamei a mulher com quem comecei o diálogo para dançar e sem nem mesmo ouvir respostas puxei-a pelas mãos até a pista, conforme aquela música ia tocando, eu ia me aproximando da ruiva, eu sentia o corpo dela me atraindo e sabia que por mim ela também se atraia. Fui levando minha parceira na direção do meu alvo e num golpe inteligente, muito inteligente devo dizer pois me espantei com o sucesso absoluto, troquei de par com o outro homem, um negro alto, que me lembrava o Denzel Washington, foi uma troca justa, deixei para ele, uma mulher que ele conseguiria lidar, e quem sabe até se dar bem e fiquei com o fardo de ter que dar toda minha virilidade para aquele avatar da sensualidade que o tolo acreditava dar conta. 
   Nós começamos a dançar e parecia a meus sentidos que a música diminuíra seu volume para deixar nossa conversa e ritmo fluir. Nessa hora eu pude perceber cada detalhe da mulher que me traria alivio e prazer no fim da noite. Ela tinha algo em torno de um metro e sessenta, uma pele branca leitosa,” só pode ser rosada” pensei e isso me excitou. Seus seios tinham o tamanho proporcionalmente certo ao seu corpo e mostravam-se em parcialidade por um profundo decote em uma blusa preta. Pensei em como ia possuí-la e em todos os modos como a faria sentir dentro de si um homem de verdade, sua cintura, fina e modelada guardava uma barriga atlética que encostando em seu corpo durante a dança senti, me peguei olhando para suas coxas e elas eram fenomenais, grossas na medida certa e terminando em uma bunda de forma redonda e provocante.
   Aquela mulher era minha, eu tinha certeza disso, mais uma vez, o diretor executivo e garanhão tinha se dado bem. Nossas palavras pareciam sintonizadas eu falava o que ela queria ouvir e ela respondia do jeito que eu queria escutar, ficamos conversando durante algo próximo de meia hora (quando se tem um tesouro daqueles por perto não se conta o tempo) e então dei o golpe final, beijei-a durante mais algum tempo, e enfim chamei-a para sair dali e ir a um lugar mais reservado e tranquilo, eu estava seguro de mim, mulheres sentem isso, elas sabem quando você tem atitude de vencedor, nos negócios também são assim, postura de ganhador é uma arma poderosa.
    Em meu carro, fomos até um motel de luxo, perguntei como ela havia chegado na boate e ela disse que com um amigo e que depois daria um jeito de ir embora, comecei a pensar que ela valia o preço do táxi que eu pagaria para ela quando estivesse indo embora de manhã. Uma vez no quarto ela e sua grande bolsa (que pegamos na chapelaria antes de sairmos) entraram rapidamente no banheiro e de lá ela me mandou esperar na cama. Não tenho o costume de obedecer a ordens, no emprego que tenho se seguisse ordens seria desrespeitado, tratado como idiota, tenho contato com empresas do mundo todo, tenho controle sobre negócios essenciais na economia mundial, eu não sigo ordens, mas aquela mulher me fez deitar, fui submisso, ainda assim ficava na minha mente o pensar “eu estou fazendo isso por que eu quero!”. Retirei minha roupa toda e deitei-me, em alguns minutos ela sai do banheiro, era sensacional, por algum motivo ela amarrou os cabelos em um coque, colocou umas luvas de dominatrix e sua lingerie era sexy ao ponto de me fazer latejar só de olhar.

   Senti-me quase intimidado por aquele ser sensual, talvez pela primeira vez em toda minha vida uma mulher me deu medo, achei até um pouco estranho. Ela subiu na cama e foi escalando meu corpo, dava um ou outro beijo em minha carne e quando achei que ganharia um belo sexo oral, vejo que ela continuou a subir por sobre o meu corpo. Quando tentei trocá-la de posição sofri represália, ela tinha braços pesados, para minha surpresa, grudou-me de volta a cama. Além de um abdômen definido ela tinha braços fortes, ela deveria ser atleta ou rata de academia, não quis pensar na hora. A sensação de submissão antes descrita agora estava muito mais forte e aquela voraz e erógena mulher subiu com seus joelhos até meus braços e sentou-se em meu peito. 
   Ela olhou nos meus olhos, sorriu sensualmente,” primeiro nela” pensei, pediu se eu gostava do que ela fazia e eu como um pequeno menino apenas respondi que sim. Então passando o dedo indicador em meus lábios ela fez um “Sshhhhhh” pedindo silencio, levou as mãos para trás das costas e “tente não gritar” foi o que ela disse, eu sorri tolamente, como uma criança eu sorri. Alguns segundos com as mãos nas costas, seu soutien não cai e ela volta com suas mãos para baixo, colocando-as na cama, não gostei, queria ver logo aqueles seios maravilhosos desnudos, ela abaixou-se até próximo do meu rosto e com sua boca perto do meu ouvido fala o nome de um dos meus maiores inimigos, um concorrente de merda que sofrera um prejuízo gigantesco há algum tempo graças a uma jogada política ardilosa (e levemente ilegal) da minha parte, diz que ele mandou lembranças e confusão digna de um tolo eu experimentei. 
   Senti algo frio e duro, parecia metal, passando pela minha garganta e conforme ele passava uma dor horrível criava-se, enquanto isso, a via sorrindo, tentei lutar, mas ela era forte, na posição em que estávamos, mais forte que eu. Uma quantidade grande de sangue jorrou da minha garganta, mas por algum motivo, eu apenas não consegui respirar, ela não cortou minha jugular, obviamente sabendo disso, achei que para não sujá-la com os respingos de sangue, achei que ela era profissional, achei, e estava certo que fui pego. “Vocês sempre tentam lutar tarde demais, nunca achei um que não tentou. Acham que estão me seduzindo, acham que são os donos do mundo, mas morrem. Vagarosamente e com essas caras de desespero ridículo, sempre morrem. Nem gritar vocês conseguem, eu corto suas cordas vocais, afinal, mesmo num motel, as pessoas podem ser curiosas” a vida esvaindo-se do meu ser e ela ao lado da cama colocava sua roupa, vi a porta abrindo, e o mesmo negro que dançara com ela mais cedo entrando a me olhar. Ouvi algo da minha assassina, não soube distinguir as palavras. Ela falou e terminou de vestir-se, veio até mim, limpou seu artífice que agora eu via como um bisturi cirúrgico, aquilo abrira um cânion em meu pescoço e eu só me mantive vivo o suficiente para vê-la indo embora. Nem mesmo perguntei o seu nome.



***
 
Bem, depois de meses, consegui terminar algo, não posso dizer que continuarei a postar, mas tentarei. Não posso julgar minha própria habilidade de escrita, então peço que vocês o façam nos comentários. Obrigado.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sobre borboletas e anjos.




   Naquela época eu era muito novo, devia ter uns 7 ou 8 anos. Morava perto de um cemitério e por mais que durante o dia eu passasse pelo lugar para ir à escola , quando a noite vinha, eu tinha pesadelos, pavor total, temia o simples ato de ir dormir, pois tinha certeza que o terror noturno viria. Eu era muito novo, numa época em que ser novo não era sinônimo de tranqüilidade, mas ainda assim conseguia ver felicidade em algumas coisas no mundo.
   Eu raramente tomava ônibus, parei de fazê-lo quando começaram a duvidar da minha idade e a tentar cobrar passagem, eu não tinha dinheiro pra isso então fazia minhas coisas a pé, isso é, se um garoto de 8 anos tem coisas a fazer além de ir a escola e tentar roubar bolachas no mercado. Porém, naquele dia em especial estava saindo com minha mãe, logo, iríamos de ônibus, não lembro para onde íamos, mas isso não importa. Chegamos ao ponto e tinha uma moça lá, não sei dizer se a imagem que tenho dela é uma construção da minha mente ou a realidade, mas no que me lembro dela, era uma bela moça jovem, de cabelos castanho-escuros e cacheados e olhos marrons e pele branca e roupa bonita e seios fartos, mas acho que os seios eu adicionei a minha memória (ou simplesmente reparei) com o passar dos anos.
   A jovem tinha um ar meigo e como toda moça bonita de cidade mais ou menos pequena não resistiu ao meu charme de gordinho remelento e comigo veio falar, normalmente sou fechado até me acostumar com as pessoas, digo no presente, pois isso se mantém assim desde aquela época, mas com aquele ser me senti a vontade desde o início, deve ter sido os peitos dela, sempre são os peitos, até hoje me sinto relaxado perto de moças com belos peitos, mas isso não vem ao caso, continuando. Ela tinha a voz doce igual à de uma cantora lírica e com seu jeito risonho pediu meu nome, respondi levemente envergonhado. Enquanto estava me perguntado abaixou-se, apoiando-se nos próprios joelhos, acho que é um gesto comum quando mulheres falam com crianças, mas ficou na minha cabeça.
   Ela tinha, para mim, uma aura incomum, não sei dizer bem, mas ela parecia ser quase uma criatura mágica, eu tinha até a impressão de que a luz refletia de modo diferente em sua linda pele, se fosse mais culto na época a associaria a uma ninfa. Então, ela fez o que a fez ficar em minha memória, a mulher levantou-se e esticou seu dedo na direção de uma pequena borboleta colorida que estava por ali voando, não sei como, mas a vendida da borboleta pousou em seu pequeno e branco dedo. Juro, juro pela caralha que quem estiver lendo isso escolher que a borboleta pousou no indicador da mulher. Imagine o impacto disso na minha mente pueril, fiquei a imaginar qual a bruxaria que aquela guria estava usando, até que, ela olhou para mim e vendo minha fascinação pela ação abaixou-se novamente, agora com o pequenino inseto ainda em seu dedo, parecia que além de tudo que já havia feito, ela conseguia ler minha mente.
-Você quer tentar? Pedia a moça sorrindo.
-Sim. Respondia o pequeno eu. –Mas como eu faço?
-Estique seu dedo na direção dela querido, se ela gostar de você, quem sabe ela não vai até aí para vocês conversarem. Ela continuava a sorrir e me deixava cada vez mais encantado.
   Eu fiz exatamente o que aquela linda moça falou, mas, a biscate da borboleta não moveu-se um centímetro na minha direção.
-Ela não gosta de mim. Por que?
-Animais sentem o amor de homenzinhos como você, se você a amasse, ela poderia ir até aí. Você a ama?
-Sim, eu acho, bem, não sei. Como isso funciona? Começava a me sentir débil diante da moça.
-Acalme-se pequeno, quando você for grande irá entender, agora vamos deixar que ela vá e descanse.
   Fiquei intrigado, mas até que aceitei a idéia de não conseguir fazer uma borboleta escrota pousar no meu dedo. O nosso ônibus chegou, eu e minha mãe entramos, mas não sei dizer se a moça nos seguiu, mas não importava mais, ela já havia entrado nas minhas memórias.
   Volta e meia acabo por pensar naquela moça, nunca vou saber se era um anjo ou apenas uma hippie louca, entretanto, acho que ela sabia de meu futuro, pois ainda hoje, não entendo o amor, pelo menos não o bastante para atrair alguém até mim e provavelmente a vagabunda sabia que eu nunca passaria de 1.69m, ou seja, nunca vou ser grande o bastante para porcaria nenhuma.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Junkie Girl.





  Noite de Sexta-feira nas quadras da UEM. Estava sentado em um banco do lado da quadra, com Carlos. Normalmente andávamos em um grupo maior, mas algo fez com que o resto dos boêmios sumissem, alguns estavam com tamanha ressaca que não conseguiram levantar no outro dia, outros estavam em lugares que nossa renda não permitiria estar, enfim, na ocasião éramos uma dupla. Estava sendo uma noite padrão, levemente engraçada, estávamos falando da nossa opinião sobre cada pessoa que lembrávamos do nosso curso, história, enquanto isso bebíamos um vinho barato comprado algum tempo antes na loja de bebidas mais próxima.
    Alguns bons goles de vinho, uma olhada ao redor para ver se não vinham guardas e retiro do meu bolso minha carteira, abro o bolso de moedas e retiro um pequeno embrulho, uma sacola de mercado rasgada e amarrada. Pego também uma nota e um cartão, coloco a carteira em cima de minhas gordas coxas, mais uma olhadela e despejo um pouco do conteúdo do amarrado em cima do couro da carteira, era pó, mas qualquer um que não seja idiota já deveria saber a essa altura da história. Com o cartão moldo duas linhas, duas levemente finas, demasiadamente brancas e venenosas linhas, enrolo a nota com maestria, faço isso há muito tempo para não ser bom, com uma mão levanto a peça de couro enquanto com a outra seguro a nota firmemente e enfio-a na minha, já machucada, narina. Pronto novamente, é hora do show, hora de encontrar aquele desencontro que só um bom drogado ou um louco conhece. Uma linha some e em troca um novo Francisco surge, mais sério, mais rápido, mais ele. Entrego a carteira e a nota a Carlos que faz o mesmo processo, mas com menos amor eu diria. A segunda linha some e “the life goes on”.
   Após mais algum tempo de conversa e pouca coisa a mais de meia garrafa, um momento de silêncio se faz, eu estava sem assunto e acho que o mesmo vale para o Carlos, até que o único motivo de estar escrevendo esse texto aparece. Ela aproximava-se pela rua que estava perpendicular a nós, cada passo que ela dava ia me clareando a visão, então consegui vê-la com nitidez. Era uma jovem, parecia sofrida, como se o estado em que se encontrava fosse o jeito de “queimar” suas amarguras, mas eu não posso afirmar isso com certeza, não sou íntimo dela, era baixa, algo em torno de 1,50 m, e estava claramente bêbada. Ela ia subindo a rua e cada vez chegando mais perto, levava nas mãos um moletom roxo, fumava um cigarro com toda a classe possível para uma bela bêbada, mas costumo dizer que toda classe de uma pessoa vira apenas pose diante da ebriedade, a moça usava um all-star preto todo sujo, parecendo até que veio pela lama do lugar onde estava enchendo a cara e que só havia começado a caminhar pelo pavimento há poucas quadras, era uma bêbada suja, imoral e displicente igualzinha a mim, porém, tinha um belo rosto, delicado apesar de machucado pela boêmia e um corpo atraente, nada de especial, só tinha um estilo bonito e com uma pele branca que me fazia sonhar.
    A moça foi chegando mais perto e um olhar entre nós dois foi trocado, dava para ver que tanto eu quanto Carlos estávamos interessados na garota, dava para ver também, pelo menos no meu ponto de vista, que ela se interessou por mim, aquele olhar, parecia que ela estava palpitando de vontade de parar e ter uma conversa agradável comigo! Uma conversa daquelas que se tem no domingo a tarde em frente à sua casa com uma cerveja na mão e ouvindo Jack Johnson. Ao mesmo tempo eu percebia uma paixão surgir em mim, isso ocorria com certa frequência, me apaixono e desapaixono como uma prostituta muda de homem, vi-me triste também, nunca fui do tipo que chamaria uma mulher desconhecida para sentar e conversar, não que fosse covarde ou algo assim, só não era um hábito muito comum a mim.
   Continuei a encarar a pequenina bêbada e via em sua face o anseio de parar, mas ela não faria isso, não ali, não naquela hora, era madrugada e por mais que poderia parecer interessante parar e conversar, ela deveria estar ansiosa para voltar para casa, além do que, ela não convidar-se-ia para uma conversa, seria indelicado para tão graciosa pessoa. Ela se foi, trançando as pernas da forma mais sexy e charmosa que já havia visto, pelo menos em alguém ébrio. Ao perdê-la totalmente de vista, voltei-me para Carlos.
    Ficamos vários minutos e o que restava de vinho discutindo sobre o que passava pela cabeça da nossa garota (nossa o caralho, minha!), se ela queria um, outro, ou os dois, se ela gostava de mordidas durante o sexo ou se era mais recatada, acho que nós estávamos montando uma imagem própria daquela moça em nossas mentes, uma imagem que poderia ou não ser parecida com a real, nunca iria saber, demos até um apelido para ela, Junkie Girl, a bêbada mais linda de todo o mundo maringaense.

   Como disse acima, o vinho havia acabado, porém, não havia saciado a nossa sede. Fomos atrás de mais, visitamos a mesma loja de onde havia vindo a garrafa anterior e estava fechada, foi broxante, apesar de ser a mais perto, não era tão perto assim, então demos meia volta e seguimos em direção a um posto de gasolina 24 horas que ficava seguindo em frente. Na metade do caminho estava passando pelo “Lanchão do Tonin”, como sempre faço, fui olhar as asquerosas faces que sempre ficam no meio da madrugada alimentando-se, são sempre pessoas decadentes, bêbados, agro boys que ficam conversando com o chapeiro ou nóias a pedir dinheiro. Não dessa vez. Não consigo me lembrar de nenhuma outra pessoa no lugar, só sei que ela estava lá, sentada de maneira tão meiga, a minha Junkie Girl, era linda, ao seu modo era a mais linda de todas. Tinha em suas mãos um lanche gigantesco se comparado com seu tamanho, parecia que ia ter dificuldades para comer aquilo, na verdade parecia ter dificuldade em segurar, ao passar olhei-a nos olhos, como se a mostrasse que apesar dela não saber, sou o homem da vida dela. Não parei, afinal, para essa ocasião continua valendo o mesmo da última, não a conhecia e durante a madrugada num lugar estranho não é o melhor jeito de conhecer gente nova.
   Chegamos ao posto, compramos mais uma garrafa de vinho barato (não tanto quanto na loja de bebidas), pedi ao balconista que abrisse para mim e o puto o fez reclamando, não me importei, contando que meu vinho estivesse aberto, ele poderia reclamar a noite toda. Seguimos de volta para a Universidade, iriamos passar novamente pela barraca de lanches, pensei em como olharia sua face novamente, em como faria com que se apaixonasse por mim, não iria acontecer, mas, sou muito bom em ter devaneios, troquei umas palavras com o Carlos sobre e vi que os dois tinham ficado encantados pela jovenzinha alcoolizada. Estava muito animado quando passamos pelo lanche pela segunda vez, estava, pois o lugar em que a garota sentava antes agora estava vazio, assim como minha alma naquele momento, se o maldito que estava no caixa estivesse agilizado em abrir aquele vinho, ou se eu apertasse o meu passo quando saímos do posto, de todo jeito, ela não estava mais lá e eu sofria por isso, de nada me valia todos aqueles bastardos montes de merda que estavam naquela porcaria de cachorrão, eu não queria eles, não procurava eles, eu queria apenas o ultimo e totalmente dentro da lei, encontro com a moça que pegou meu coração naquela noite, só queria vê-la mais uma vez, como se para despedir-me, afinal, não sabia se iria revê-la algum dia.
  Queria voltar para os bancos para afogar minhas mágoas recém-adquiridas, andamos um pouco após a barraca e tive uma surpresa. Um táxi parado, um motorista dentro com uma mulher de blusa roxa em seu colo, beijando-o como se ele fosse o ultima homem limpo do planeta. Não sei dizer se era realmente a minha garota, mas acho que seria bem a cara dela (da Junkie Girl que eu criei em minha mente) pegar o taxista em troca da viagem, não fiquei olhando muito, não quis atrapalhar, era escolha dela pegar o motorista e eu não poderia fazer nada, na verdade acho que nem me ofendi com isso, achei até excitante, se fosse ela a agarrar o homem naquele carro, ela formaria, para mim, uma imagem de mulher bandida e sôfrega que eu acho linda, estilo Marla Singer ou Júlia, todo modo, eu não estava triste por vê-la com outro, estava somente um tanto triste por não vê-la comigo. Voltamos para as quadras, e apesar de tudo, até chegar de volta aos bancos tinha um pingo de esperança que ela estaria lá a me esperar, com uma garrafa de vinho só para ela e um cigarro queimando, e dessa vez sorrindo. Obviamente foi um ato falho, e a única coisa que tinha a me esperar era um banco vazio e a fome, não de comida, presente em mim, novamente. Sentamos. Terminei com o pó que tinha. Terminei com o vinho que compramos, terminei com os cigarros e até mesmo com os assuntos, então após uma passada na padaria (já eram umas 6 da manhã nesse momento e o dia começara a amanhecer) para abastecer-me de cigarros fui para a velha pensão onde morava. Não sabia o que fazer no outro dia, não sei dizer até hoje se queria procurá-la e pelo menos saber seu nome, ou se a única coisa que queria dela era aquela noite de romance platônico, deixando a imagem que tinha dela intacta assim como a de uma deusa em minha mente. Aquele foi um dia interessante, hoje em dia vejo essa moça esporádicas vezes, nunca falei com ela, ela não me olha como se eu fosse especial para ela, mas ela nunca vai deixar de ser a minha Junkie Girl, e se um dia eu descobrir o nome dela, escrevo outro texto contando para quem estiver interessado.

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Bem, algumas explicações. Este texto é uma releitura do texto que deu origem a este blog (A paixão que te toma conta nas sextas-feiras), e consequentemente, o que me embalou a escrever. Nem tudo que tem neste texto condiz com a realidade, mas, não vou contar o que, descubram por si sós. Ando com dificuldade para criar, então estou pegando histórias não terminadas e tentando fazer delas algo bom. Não que eu tenha leitores o suficiente para fazer algo do tipo, mas ando com problemas e por isso me desculpo pela baixa produção. É isso, espero sinceramente que gostem.

sábado, 24 de setembro de 2011

Complexo de Rachel Weisz.


Tinha acabado de sair de um coquetel de finalização de um congresso, estava entediado lá, um bando de professores com seus blazeres de flanela e seus sapatos de ponta fina e suas caras de superior, que apareciam apenas com a finalidade de ocultar suas psicoses. Eu odiava aquele congresso, aquela gente, estava odiando até mesmo o fato de ter que respirar o mesmo ar que aqueles otários. Chamei os que eram decentes daquela corja toda e avisei onde irem, um bar a algumas quadras dali e fui levar Mônica até sua casa, ela era uma caloura minha e estava bêbada, ela era fraca para bebida e na festividade serviram vinho. Deixando ela em casa, ela percebeu meus dentes levemente arroxeados.
    -Seus dentes estão roxos de vinho.
    -OK, não posso fazer nada.
    -Meus dentes estão roxos?
   Conferi os seus dentes, estavam bem manchados e dava para sentir o cheiro de vinho vindo dela.
    -Muito. Você deveria escovar os dentes, vou indo.

   Me despedi e continuei a andar pela rua, era uma noite fria e com neblina, fraca, porém, existente, tirei um fino que tinha no bolso e o acendi, a fumaça esquentava meu pulmão, e comecei a caminhar mais rápido. Cheguei no bar, chamava-se “São Francisco”, quando ia entrando reparei numa guria adorável, ela tinha um cabelo longo, liso e de um vermelho escuro, além de umas coxas, que coxas eram aquelas, me lembravam as coxas da Rachel Weisz, e qualquer mulher que me lembre a Rachel Weisz merece admiração. Olhei ao redor, o pessoal já havia chegado e trouxeram com eles uma quantidade razoável de pessoas, tinham 4 mesas encostadas e eu sentei-me com eles.
    Pedi uma dose de conhaque com gelo e comecei a conversar com o cara ao meu lado, era um veterano pelo qual tinha algum respeito, falamos sobre o modo místico que historiadores lidam com piadas, não sabendo fazê-las ou mesmo ouvi-las, e também como um comediante da internet fez piadas com certos ditadores do século XX. Historiadores, sempre tentando explicar tudo de modo contextual, nunca dão o braço a torcer e sempre precisam de algo que comprove ou embase o que eles vão falar, enquanto pensava isso agradecia por não ser um historiador ainda. Terminei minha dose de forma rápida, pedi outra e saí com um outro amigo, ele ia fumar e eu queria continuar uma conversa que tínhamos e também olhar a mulher de cabelos vermelhos. Falávamos sobre mulheres do passado e do presente, aquele era um assunto que me agradava. Troquei olhares com a moça que estava reparando, ela não parecia interessada, mas, ainda assim me sentia tentado por aquelas coxas.
    -Você viu aquelas coxas? Perguntei ao Ítalo, o amigo fumante.
    -As da ruiva?

    -É. Elas são perfeitas, me lembram a da Rachel Weisz.
    -São muito bonitas mesmo.
    -Ela não é ruiva, ela tem cabelo vermelho.
    -Não é a mesma coisa?
    -Eu também achava, mas um dia conheci uma guria meio doida que tinha belos cabelos vermelhos, ela era linda, baixinha, e bem inteligente, uma vez chamei-a de ruiva e fui xingado igual um filho de puta. Depois disso sempre corrijo os outros caras, pelo que entendi dessa pira toda, elas não gostam de ser chamadas de ruivas.
    -Interessante, terminei o cigarro, vamos indo?
    Sentamos de volta a mesa e terminei minha segunda dose, estava meio bêbado. Pedi a terceira dose e fui ao banheiro, agarrei-me ao primeiro mictório que achei, abri a calca tirei, mijei, estava branquíssima minha urina, puro álcool, chacoalhei, guardei, lavei minha mão, vi um cara ao meu lado sair sem fazê-lo e voltei a mesa, o conhaque me esperava, continuei bebendo, conversando com Ítalo, descobri que o primeiro nome verdadeiro da Rachel Weisz é Elizabeth, que a porcaria do cheiro da chuva tem um nome, mas não me lembro mais qual é e que a deliciosa Bruna Caram nasceu em Avaré, cidade natal dele.

   Continuei a beber, terminei a terceira dose e pedi a quarta, terminei a quarta e pedi a quinta, depois disso estava bêbado demais para conversar, fiquei um tempo na mesa e resolvi ir embora, deixei algumas notas na mesa, peguei minha carteira e as chaves, despedi-me do Ítalo e deixei os outros de lado, eram muitas pessoas e eu estava muito bêbado e elas estavam ocupadas com suas conversas sem importância. Fui ao estacionamento e apertei o botão do alarme, uma luz piscou e uma buzina rápida tocou, fui até o carro, liguei-o, dei a ré, andei um pouco e bati de leve em outro, nessa hora lembrei que tinha vendido meu carro há um mês para pagar umas dívidas. Saí do carro, olhei de canto para a direção do bar, parecia que ninguém tinha percebido o que eu tinha feito, aproveitei e saí de fininho, deixei o carro aberto e fui embora, acho eu que despercebido. Cheguei em casa com dificuldade, deitei na cama sem nem mesmo o tênis tirar e dormi, acordei no meio da noite corri até o banheiro e vomitei muito, lavei minha boca, tomei alguma água, da torneira do banheiro mesmo e voltei para a cama. Sonhei com um acidente de carro e com a Rachel Weisz, acordei durante a tarde, fiquei o dia todo esperando que me ligassem reclamando pelo carro, não o fizeram, achei ótimo, não teria dinheiro para pagar o concerto de um carro. Acho que tenho alguma paranoia com a Rachel Weisz.

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Texto simples e escrito meio bêbado, não me julguem.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ensaio sobre o boteco e o velho que é rei.



   A grande maioria das pessoas despreza os botecos de bairro, aqueles com a fachada patrocinada por alguma marca de cerveja e que geralmente são comandados por um velhinho e sua prole. Por não entenderem a complexidade do barzinho quanto instituição ou simplesmente por não acharem esteticamente belos, as pessoas passam despercebidas por esses locais, deixando de absorver uma carga cultural de grandeza admirável. O que quero explicar aqui é a forma desenvolvida e hierárquica dos botecos enquanto instituição social e fonte de entretenimento de determinados grupos.
    Começarei pelo nome. O nome do bar pertencente a um tiozinho, sempre possuirá o nome do mesmo, tendo o objetivo de mostrar quem domina o território, exemplo semelhante temos em Castela (Reino da península Ibérica que hoje pertence ao território espanhol, chamado Reino de Castela devido ao nome da família real), percebem a inspiração histórica de todos os anciões criadores de bares de bairro? O dono do bar pode ser comparado a um monarca, pois, rege as leis do estabelecimento e domina a política local, controlando coisas como economia (fazer ou não fiado, o tamanho do desconto ou acréscimo de acordo com o nível etílico de cada cliente, os impostos sobre as mesas de sinuca e baralho, etc.), alimentação (avisando a velhinha que costuma ser sua esposa de que as coxinhas, ovos de codorna ou queijos em nó acabaram, solicitando-a nova remessa), entretenimento para a população (manutenção dos baralhos, garantia de uma mesa de sinuca íngreme e música de qualidade duvidosa tocando todo momento) entre outras funções cabíveis a um rei de respeito.
   Ao lado do nosso monarca de boteco temos sua esposa, a senhora que normalmente tem uma voz exageradamente alta e aguda, ela é responsável pelas funções de limpeza e preparação dos quitutes que só um bom bar de tio possui, normalmente elas tem nomes curtos e de fácil pronúncia para auxílio dos bêbados (Edna, Maria, Perina). Ao lado dela temos em alguns casos as filhas do monarca, que são quase sempre muito cobiçadas dentro do local, tendo em vista que é rara a presença feminina. Muitos monarcas tendem a privar o espaço das "princesas" colocando-as presas na cozinha auxiliando a mãe, evitando assim contatos indesejados com os frequentadores, possivelmente pervertidos ou apenas necessitados de sexo, do local. Enquanto isso, os filhos homens do velhinho, tendem a melhorar suas habilidades nas supracitadas sinuca e jogos de baralho em geral, e auxiliar o pai no papel de servir os frequentadores do local, eles também podem desenvolver-se nas atividades com drinks, aprendendo por exemplo a fazer o famosíssimo rabo de galo ou a deliciosa e clássica caipirinha, assim sendo, os filhos homens são o grupo mais eclético de todo o “reino”.
    Saindo da elite dominante chegamos às classes distintas de clientes, temos vários tipos diferentes que circulam pelo lugar. De começo, na beira do balcão temos os clientes mais assíduos, estes sempre ficam ali, bebendo diversos tipos de bebidas, consumindo variadas guloseimas e aperitivos e conversando diretamente com o dono do bar (não que as outras classes não falem com o rei, é que esta mantém-se mais "próxima" da figura monárquica), eles têm boa relação política com todas as outras classes, mantendo-se neutros nas disputas que ocorrem dentro do boteco, alguns membros dessa classe tendem a esporadicamente frequentar as mesas de sinuca ou baralho como forma de entretenimento, afinal a politicagem e a conversa fiada podem entediar.
   Agora temos duas classes rivais, podemos considerá-los a classe média dos botecos, estes são os jogadores de sinuca de um lado, digladiando-se com os apreciadores das artes do baralho de outro, em um bom bar de bairro com nome de senhor, sempre haverá disputas por espaço e reclamações por parte dos baralhistas (palavra em que estou em dúvida acerca da existência) e dos sinuqueiros (palavra que eu tenho certeza que não existe, porém a usarei na falta de termo melhor). Os jogadores de baralho costumam reclamar das tacadas por acidente (ou não) que levam enquanto os apreciadores do bilhar reclamam da falta de espaço e da esbórnia dos truqueiros, pokeiros e cacheteiros.
   Temos mais personagens nessa complexa estrutura butequística, mas a demanda de tempo necessária para falar sobre elas é alem de minha capacidade atual. Assim sendo, por último vou falar sobre a classe mais abalada pelos males do mundo em todo o boteco, os bêbados que ficam na porta do bar ou no banheiro. Estes são os párias do local, o monarca tende a ter certo apreço por eles, mas também os ignora a fim de manter a paz no recinto. Eles têm toda uma cultura própria, nela encontramos tradições fortemente enraizadas, como por exemplo, cantar (xavecar, mexer) todos os seres possuidores de vagina que passam em frente ao bar. Uma curiosidade acerca desse costume é que ele limita-se ao falar, ou seja, eles sempre partem do pressuposto que a pessoa do sexo oposto vai ignorá-lo, sendo assim no caso de serem desafiados a cumprir o que prometem no xaveco, (a expressão usada por eles “ô lá em casa” ilustra isso) é comum que o bêbado decline, passando assim a imagem de covarde que está entrelaçada psicologicamente a ele. O mau cheiro em grande parte das vezes acompanha essa classe como um fiel cão acompanha seu dono, sendo estas uma de suas características mais conhecidas. Um último, mas não menos importante aspecto da cultura da cachaça (termo cunhado pelo grande sociólogo Gilberto Irmão, também conhecido como Gil Brother ou Away de Petrópolis, grande estudioso da classe bêbada nos botecos de toda província do Rio de Janeiro no tempo do Império) é a sua capacidade migratória, eles tendem a criar rotas saindo de suas casas passando por vários, as vezes dezenas de bares com nome de velhinho, estabelecendo assim a embriaguez total e então começarem a difícil jornada de volta para casa, lendas antigas dessa classe dizem que essa é uma tradição inspirada no movimento migratório dos albatrozes, espécie em que a migração serve de seleção natural, excluindo os indivíduos com menor capacidade de sobrevivência.
   Concluindo, a estrutura social chamada boteco, barzinho, taberna ou simplesmente bodega possui complexidade política, cultural e econômica notável e seria um erro por parte de qualquer ser humano que tenha interesse em história, sociologia, filosofia ou qualquer uma das ciências humanas desprezar tamanha riqueza de conhecimento. Agora peço que todos que leram este texto deem valor maior a cada copo de cerveja barata consumido no Bar do Lourival (nome meramente ilustrativo).

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Um pouco diferente do meu habitual estilo de escrita. Dedicado a Elô do elosuda.tumblr que me ajudou com conversas mistícas.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Manteiga no rosto é o segredo para sedução.


   Muitos já devem ter escrito sobre o que andou rolando nos últimos dias na Universidade Estadual de Maringá, porém, nenhum deles tem meu jeito de ver as coisas, um jeito que eu chamaria de um tanto quanto peculiar. Não cabe aqui falar sobre todas as facetas da minha personalidade, então com base nos fatos que irei descrever vocês tirem suas próprias conclusões. Nessa pequena conversa mostrarei como eu, Francisco Miranda, estudante de história e participante de todas as ações políticas que ocorreram na UEM no decorrer das últimas semanas viu a situação.
    Acordei atrasado para o ato, não muito, mas com certeza iria chegar depois do início. Como café da manhã bebi um pouco de leite com chocolate, se bem me lembro, duas fatias de pão e por último alguns goles de uma batida de coco que estava na geladeira. Queria participar do ato, então me apressei, não daria tempo de tomar um banho, então só troquei de roupa e reforcei meu desodorante. Fui andando rápido até o DCE, onde não achei mais ninguém (lá era o ponto de inicio da porra toda), porém, conseguia ouvir vozes vindo da direção da avenida Colombo, fui até lá. Quando cheguei encontrei uma multidão, um carro com caixas de som em cima, de onde os comunistas que estavam organizando a manifestação falavam palavras de ordem não muito bem ensaiadas e que a grande maioria das pessoas erravam, não era bonito de se ouvir, mas era engraçado.
    Havia combinado de me encontrar com alguns amigos que já estavam ali, então fui procurá-los, acho que sou bom nessas coisas, pois em questão de 2 ou 3 minutos já tinha achado eles num grupo com cerca de 600 pessoas. Agora estávamos em 4, engatei uma conversa com Hélio enquanto íamos andando e entremeio o diálogo gritávamos as palavras de ordem que estavam rolando. Íamos falando sobre a quantidade mística de mulheres belas que estavam ali, e as que se destacavam no montante de estudantes, universitárias e gostosas, ganhavam comentários perversos. Andamos até uma esquina, depois fizemos a volta e chegamos na reitoria, fui acompanhando com os olhos uma bela moça de cabelo ruivo, mas desisti dela quando a vi beijando seu namorado, uma vez na reitoria o momento chave de toda a semana chegou, o reitor entregou a carta com a resposta das reivindicações que foram feitas a ele 15 dias antes (estou falando sobre meu ponto de vista, então não é necessário que você esteja totalmente inteirado da situação), uma vez com a carta em mãos, um jovem que cursava educação física e tinha cara de idiota leu-a na frente de todos. Era lixo, pura balela em vão usada para tentar apaziguar a ira dos manifestantes, ele questionou o que deveríamos fazer e uma proposta surgiu, só uma, mas que seria extremamente eficiente, invadir a reitoria e ocupá-la até ter uma resposta digna de pessoas que são o futuro do país. O espírito de anarquia tomou conta de todos e com uma decisão praticamente unanime invadimos o prédio, com o passar de algumas horas todos os funcionários estavam fora e estávamos organizando tudo para que aquela ocupação fosse perfeita. No começo da noite eu havia sido encarregado membro da comissão de segurança, iriamos guardar todos no local, grande coisa, as pessoas estavam numa sinergia tão grande que não era necessário alguém para garantir segurança, mas existiam fatores externos, o que tornava minha função compreensível. Fui para minha casa e tomei um bom banho e arrumei minhas coisas, voltei por volta das 11 da noite para a reitoria, seria uma longa noite.   Durante todo o tempo que fiquei lá, volta e meia via uma mulher, ela era baixa e levemente rechonchuda, com um olhar e um jeito tão meigos que me balançaram profundamente (sou pego muito fácil por trejeitos), ela tinha uma câmera na mão quase todo o tempo, loira e com uma pinta no rosto, uma dessas moças que te fazem escutar Belle and Sebastian na cabeça de tão encantadoras, além do que usava um vestido bonito, que dava a impressão que aquela cativante guria tinha vindo direto dos anos 50 para mim. Já tinha visto ela nos arredores da universidade e em outros pontos da cidade, mas naquele dia ela estava especialmente linda. Não sou o tipo que vai atrás de mulheres desconhecidas, então fiquei a esperar algum sinal da parte dela. A noite foi indo e um acampamento foi firmado no local, um espírito de luta dominava todos, era lindo, aquele lugar parecia uma comunidade alternativa, mas com o privilégio de ter uma lanchonete a 50 metros dali.
    Não comentei quando falei de minha função lá, mas das 4 até as 8 da manhã seria meu “turno”. Durante esse tempo conheci gente nova, algumas pessoas interessantes, muita gente chata e uma mulher bem malandra (que não vem ao caso falar sobre agora), foi interessante, eu que normalmente sou fechado estava até conversando com o pessoal. O dia foi amanhecendo e as pessoas presentes foram levantando, eu estava na porta cuidando para que nenhuma pessoa que não fosse um estudante ou parceiro nosso entrasse (não era um trabalho difícil, afinal, estava tudo meio parado). Os estudantes começaram a sair de dentro da reitoria (tenho que explicar que não havia como dormir todos lá dentro, logo, alguns acamparam fora enquanto a outra parte ficou lá dentro).
   A linda moça de que estava falando acima saiu, ela tinha em sua mão uma caneca preta e longa com café puro nela, ela estava com aquela expressão acabada de começo de manhã, não era algo lindo de se ver, mas, achei fofo, em sua outra mão um pão com manteiga que a galera da comissão de cozinha estava servindo, ela andou um pouco e conversou com alguns humanos que me foram ofuscados pela beleza da pequena jovem, ela tinha uns trejeitos com a cabeça muito engraçados e ao mesmo tempo belos, essas coisas que nos dão até uma indignação. Agora ela estava vindo na minha direção (mentira, ela estava indo para a porta que estava atrás de mim, mas posso me iludir do jeito que bem me convier), enquanto comia seu pão, um pouco da manteiga ficara em seu rosto, tão lindo, tão tolo, tão apaixonante, quando ia entrar no prédio, de forma envergonha falei-a “moça, tem … no seu rosto” (onde deveria falar manteiga simplesmente apontei para região onde estava sujo nela, em minha própria face), mal consegui falar a frase toda, ela limpou-se e agradeceu falando um obrigada bem baixinho com uma cara de vergonha, fiquei todo derretido, aquela moça tinha ganhado muito do meu interesse.   Após algum tempo, chegou às 8 horas e eu precisava ir para a aula, larguei o meu posto e fui na direção de minha casa, queria tomar um banho antes de ir para aula. Pensava muito na moça loira. Enquanto andava ouvi um homem que caminhava ao meu lado falando algo no celular sobre o céu e balões, quando olhei para minha esquerda com o fim de atravessar a rua, vi dois balões desses de ar quente sobrevoando a Universidade bem de perto, achei bonito e sorri. 
   Continuei andando e ao chegar a uma passarela da UEM que passa por um campo aberto vi vários balões enquanto escutava o som de suas turbinas (ou seja lá que caralho move aquilo), estava com um sentimento de felicidade, fiquei sorridente. Cheguei em minha casa e desisti de ir na aula, estava cansado, deitei, dormi, sonhei com a moça e acordei bobo, estava apaixonado ou pelo menos encantado, até tentei me sentir mal por minha atenção naquela coisa toda ter sido da jovem e não do movimento estudantil, mas não consegui, no fundo, para mim, mulheres são mais atraentes que a política.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Corações.

   Estávamos num grupo de pessoas, amigos, amigos de amigos, pessoas que nunca nem vi na vida. Ela era uma conhecida até o momento, tínhamos uma amiga em comum. Era uma daquelas noites de outono, em que em questão de minutos, talvez horas a temperatura muda drasticamente e nesses dias é fácil ser pego de surpresa pelo frio, principalmente num lugar igual ao bosque das grevíleas.
   Neste dia, estávamos com algumas garrafas de vinho barato, muitos baseados e um violão. Eu nunca havia dado muito atenção a aquela moça, mas naquele dia ela estava impressionantemente sexy, a ponto de prender meu olhar. Sentei ao seu lado, nesta hora a temperatura estava começando a descer e ela vestia apenas uma blusa com decote e um casaco finíssimo. Eu pedi o violão para um rapaz que estava a alguns minutos balbuciando algumas músicas do Jorge bem e como nunca fui bom cantor, pedi para Carlos, um amigo, para que cantasse uma música que eu iria tocar. Sabia que ela gostava de grunge, então resolvi tocar “creep” do Stone Temple Pilots, após o fim da música percebi que minha atitude tinha dado certo, ela estava me olhando de uma maneira mais encantadora, ou melhor dizendo, encantada.
   Conversamos durante um tempo, então o frio maligno veio, ela parecia um pequeno filhote congelando, achei belo. Sempre me apaixonei fácil e acho que isso sempre foi de fácil percepção, também fui sempre um romântico e gostava de fazer coisas românticas, então resolvi armar algo.
    Quando a vi tremendo de frio e bebendo para tentar esquentar, tirei minha blusa, coloquei dentro do bolso de forma disfarçada meu coração e sem mesmo que ela pedisse, envolvi a pequena jovem, seu nome era Luíza, com meu grande moletom que aceitou de bom grado. Também não avisei ela do que havia em meus bolsos, estava seguro de que ela iria perceber e, quando isso acontecesse, teria terminado minha jogada e era quase certo que ela iria retribuir entregando-me o seu coração, assim ficaríamos juntos.
   Impressionante a crueldade com que a lei de Murphy pode ter. Não sei dizer se ela não viu, ou se não gostou da ideia de ganhar meu coração e jogou-o fora, mas acerca desse assunto ela não comentou nada, e desestimulado pelo fato da minha “grande sacada” não ter tido o efeito esperado, pelo menos não no momento, nosso “clima” acabou esfriando. O fim da noite foi chegando e ela anunciou sua partida, para tentar garantir que iríamos nos encontrar novamente, pedi que ficasse com a blusa e assim ficar aquecida até chegar em casa, com a desculpa de “saber como estava minha blusa” peguei seu telefone.
    Alguns dias se passaram e não liguei para ela de começo, queria ver se ela me daria alguma atenção na internet, local por onde tínhamos algum (quase zero) contato antes desta noite, ela não deu. Depois de uma semana comecei a sentir a falta do meu coração, e quando a amiga que tínhamos em comum entregou-me o casaco sem o coração no bolso, pensei, demorou um pouco para ela perceber, mas ela gostou do meu gesto, tenho que ir atrás dela e de um coração, sendo o dela ou o meu. Peguei meu telefone e liguei para ela com um frio na barriga, característico de um começo de flerte, na primeira tentativa ela nem atendeu, passado um dia, tornei a ligar e desta vez sua doce voz entrou suavemente em meus ouvidos.
    -Alô!?
   -Alô! Luíza?
   -Sim, quem fala?
   -Oi, aqui é o Francisco, lembra? O amigo da Laura...
   -Oh!? Claro, tudo bem?
   -Tudo ótimo e você como está?
   -Bem bem, tudo certo.
   -Então, lembra que naquele dia do “grevas” você ficou com meu moletom?
   -Sim, claro. Mas eu deixei ele com a Laurinha uns dois dias depois, ela não lhe entregou ainda?
   -Ah, sim, entregou sim. É que eu esqueci um... coisa no bolso e creio que você tenha achado.
   -Na verdade não me lembro de ter achado nada, acho que nem mesmo conferi os bolsos, não tenho esse costume. Mas eu estava meio bêbada aquela noite, o que você deixou na blusa?
   -Então... Olha que cabeça a minha, esqueci meu coração, sou um relapso, não!?
    -Nossa, nem sabia que você tinha um. Olha eu tenho certeza que não tem nenhum coração aqui em casa, você pode ter deixado ele cair antes de me entregar.
    -Bem, obrigado de todo modo, e hein, sexta-feira vai ter rolar um blues no tribos, a gente deveria ir!
    -Vou ver, se for o caso combino com a Laurinha.-É, OK, beijo.
    -Beijo.
    Fiquei embasbacado ao colocar o telefone de volta no gancho, onde caralho estaria aquele pedaço de mim. Uma agonia foi me pegando de jeito, afinal, enquanto eu achava que ele estava com a Luíza, tudo bem, ele estava seguro, mas agora, eu não sabia onde meu precioso (ou talvez nem tanto, já que entreguei-lhe para a primeira que apareceu) coração.
   Agora a única coisa que eu queria era ter meu frágil coração de volta e no melhor estado possível. Sendo assim, fui atrás de Laura, a amiga que me entregou o moletom, achei que poderia ter ficado na blusa e assim passado despercebido por Luíza. Estava num livre, então fui até a casa de Laura, obviamente depois de ter ligado e conferido se ela estaria lá. Entrei em seu apartamento, o 802 do edifício Classic, era muito agradável, tinha uma pequena e aconchegante sacada e os móveis haviam sido bem escolhidos, não consegui aproveitar decentemente a beleza do lugar, quando seu coração está na posse de outras pessoas, sem você estar com o delas, fica difícil sentir esse tipo de coisa, falta-lhe algo. Sentei-me numa boa poltrona de madeira com estofados e percebi que estava soando.

   -Laura, tô preocupado, meu coração ficou naquele meu moletom que deixei com a Luíza, sua amiga, e não tá com ela e nem na blusa. Por acaso não ficou com você?
    -Coração? Nem tava sabendo que você tinha arrumado um Chico.
    -Eu sempre tive um! E ando escutando muito isso ultimamente.
    -HAHAHA! Bem, não tá aqui não, mas você é um besta mesmo hein! Foi deixar seu coraçãozinho pequenino com a Luíza, não foi muito inteligente, HAHAHA!
  -Eu não DEIXEI com ela, eu esqueci!
  -Sei, essa é meio velha né meu bem. Quer café?
    -Não, vou indo, tenho que achar essa merda de coração logo, não aguento mais isso!
    Fui-me embora e no dia seguinte fui no único lugar em que poderia estar e ainda ter alguma chance de achar, o bosque das grevíleas. Cheguei no “grevas” ainda de manhã, estava com sono e o orvalho estava na grama e nas folhas. Cheguei até o local onde estávamos naquela noite, andei por alguns minutos procurando e finalmente, somente a alguns centímetros de onde Luíza estava sentada, achei a parte que me faltava, meu cansado coração estava de volta.
    Pela posição em que estava parecia ter sido chutado, além do que tinha uma marca de sapato, mas era de um pé grande, todo modo, nunca terei certeza se a moça jogou meu coração fora, ou se apenas nunca chegou a tê-lo nas mãos de verdade. Uma vez com minha “válvula de emoções” em minhas mãos novamente, vi que ele estava sujo e amassado, molhado de orvalho e machucado, limpei-o com minha camisa, que por sua vez ficou bem suja, tentei consertar o amassado, mas não consegui desamassar tudo.
    Apesar de amassado, ele parecia funcionar bem, coloquei-o de volta em seu lugar e o vi começando a trabalhar novamente, estava lento, recuperando-se e isso levaria um tempo, me senti melhor com ele de volta no meu peito. Fechei minha camisa e fui beber, afinal, tinha que comemorar a volta de um bom e, apesar de desleal, velho amigo.



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Baseado na música "Devolve, Moço" da incrível Ana Canãs. Quem quiser ouvir Clique aqui.
Agradecimentos ao Paulo Henrique (CHE) de Souza, do Poesias do CHE por me arranjar um caderno com poderes mágicos.

Ruivas, belas e pernetas.


   É impressionante a capacidade humana de criar manias. Eu sempre fui muito bom em criar as minhas, uma vez cismei que deveria bater duas vezes os talheres, fazendo um som agudo, para “avisar” meu estômago que a festa estava começando. Outra vez adquiri o hábito de arrumar minha camiseta, puxando-a para baixo e descolando-a do corpo, toda vez que meu relógio tocava, o que ocorria de hora em hora.
    Uma vez dito que sou um homem de manias, vou lhe falar um pouco sobre as épocas em que misturei minhas manias, que criam-se todo o tempo e minha vida amorosa, também conhecida em alguns lugares como “insanidade injustificável”.
    Estava no segundo ano de faculdade e era razoavelmente bom em algo que meu avô costumava chamar de “galanteio”. Nunca fui muito bonito, então me obriguei a ser bom conversador para conseguir ter algo para mostrar às jovens. Na época eu não perdia a oportunidade de puxar uma conversa com as pessoas do sexo oposto, e como andava com uma taxa de sucesso bem alta, comecei a ter mudanças peculiares no meu “tipo” de mulher. Sendo assim acabei decidindo que só teria relacionamentos longos com jovens ruivas ou de cabelo pintado, não teria problema ficar com outro tipo, mas namorar ou qualquer coisa que durasse mais de uma semana deveria seguir esta regra, não sei por que escolhi ruivas, mas elas sempre me atraíram muito, acho que no começo foi só questão de gosto mesmo.
    Foi impressionante, na semana seguinte achei uma moça nesse padrão. Chamava-se Dayane e era do interior de São Paulo. Tinha uma conversa agradável e belos peitos e um admirável traseiro, gostava de ouvir hardcore, se eu não estou enganado, e conversar sobre política liberal (não era algo que me interessava muito, mas com ela falando tinha lá seu charme), e obviamente seus cabelos eram tingidos, tinham um fabuloso tom vermelho sangue.
   Nós ficamos juntos durante 3 perfeitos meses, foi incrível, ela fazia umas coisas com a mão que me deixava louco, mas isso não vem ao caso. Depois desse tempo ela desistiu do curso (tenho dúvidas até hoje se ela fazia farmácia ou química, lembro que ela sempre tinha jalecos pendurados no cabideiro, acho que era farmácia mas não consigo afirmar com certeza qual era) e voltou para sua cidade, pelo que sei, isso é, se ela me falou a verdade, seu pai estava doente. Quando ela se foi, fiquei deprimido, e no fundo eu pensava que ela voltaria, nessa época eu percebi que havia realmente me apaixonado por aquela mulher.
    O jeito que meu inconsciente deu para que eu ficasse, com certeza em vão, esperando por ela foi, uma mania extra e umas mudanças nas regras que eu criei tempos antes para relacionamentos.
    O coração de um jovem pode pregar peças quando está apaixonado, e o meu não agiu de forma diferente naquele instante. Após algum tempo engolindo a separação e o fato da moça de que gostava ter ido para não mais voltar, resolvi que cores de cabelo não importavam, a regra agora era: “não relacionar-se com uma moça que tenha as duas pernas” e isso valia para todas as ocasiões, ficar, namorar, uma simples trepada, só valiam, pernetas ou sem pernas. Comigo falando assim, você pode pensar “esse cidadão tá completamente louco!” mas dentro de mim, eu acreditava realmente na volta da formosa Dayane e suas mãos macias, assim na minha cabeça, aquilo tudo era só um jeito de garantir a vaga dela, até seu retorno.
   Outra coisa que me surpreende nas atitudes humanas é a influência da sorte, não sorte tipo destino ou coisa assim, apenas o poder e a beleza do acaso. Fiquei alguns meses sem mulher nenhuma e jurando a mim mesmo que estava assim por que era exigente e que nunca achei mulher que entrasse nos meus padrões, ou seja, não havia mulher boa o bastante para mim. Até que começou o novo ano letivo, junto dele veio a nova safra de calouros da Universidade Estadual de Maringá, e com eles uma surpresa. Incrivelmente uma das minhas calouras andava de muletas, e com um jeito de mancar diferente do normal para alguém que quebrou a perna. No mesmo dia, na festa de recepção para os calouros de história, puxei conversa com ela, de começo sem tanta pretensão, estava conhecendo os calouros, mas depois vi, que era verdadeiro interesse. Enquanto nos falávamos descobri que por incrível que pareça existia uma perneta naquela cidade. Ela sofrera um acidente quando tinha 6 anos, estava junto com seu irmão mais velho numa moto e bateram ao lado de um ônibus, história triste e com ela contando era impressionantemente encantador, foi fácil já que tenho um certo encanto por pessoas fodidas pelas suas vidas. 
   Nos aproximamos rapidamente, primeiro pelo fato dela ser a única pessoa naquela universidade e em todo o meu círculo social, que supria minhas exigências quanto a atributos físicos, segundo que mutilados sempre me chamaram a atenção, eu gosto deles, parecem tão aventureiros, ou o que resta deles depois de aventura mal sucedida, e por último, ela era uma maconheira de primeira, o que criava um laço entre nós, a ganja e nosso apego a ela. Ela era bonita, olhos claros e cabelos pretos, dei graças na época por não me apegar mais a cores de cabelo, apesar de preferir ruivas e tingidas. Seu nome era Mel, me chamou bastante a atenção, ela tinha uma insegurança notável que me atraiu logo (pode-se somar ao fato dela ser bonita e ter um jeito de ser que me atraía, o fato de não transar a meses, mas seria indelicado de minha parte falar), além do que, ela também não tinha muitas opções, afinal, além de mim, quantos caras você acha que olham com paixão para uma perneta, não que ela não fosse atraente, mas creio eu que deve haver algum tipo de preconceito contra a sua classe.   Então foi basicamente assim, num dia estava dando meu primeiro beijo na doce e insegura Mel, aconteceu ainda na primeira semana de aula, e quando me dei conta, completávamos 2 anos de namoro. Foram 2 prazerosos anos, que passaram rápido demais pro meu gosto, mas tenho que dizer que aquela mulher, apesar de não ter uma das pernas, sabia muito bem o que fazer com suas coxas, que eram muito fortes e grossas por sinal.
    O fim do meu relacionamento com Mel nunca ficou muito claro para mim, acho que sua insegurança, que nunca deixou de existir enquanto namorávamos, fez com que ela terminasse comigo. Eu tinha me formado a poucas semanas e segundo ela, não queria que eu ficasse em uma cidade que não era meu lar só por sua causa, ela me disse que sempre pensou que tive pena dela e por isso me interessei, eu até tentei negar e conversar, mas ela era teimosa. Bem, isso é o que ela falou para mim, existe a possibilidade dela querer trepar com outros, ela poderia ter achado alguém que gostasse de pernetas tanto quanto eu, ou só ter enjoado de mim e aproveitado a deixa, mas, como eu nunca faço perguntas que não quero realmente saber a resposta, nunca fui muito a fundo nessa conversa, afinal se ela queria terminar não haveria nada que eu pudesse fazer.
    Me formei e voltei para a “espetacular” Cascavel, saí de lá como estudante, voltei professor de história, grande bosta, eu não tinha mais comigo a minha querida Mel. Uma vez em Cascavel fui contratado por um colégio para dar algumas aulas de história do Brasil no pré-vestibular. Lá eu via dezenas de jovens moças com seus atraentes corpos e seus cabelos de todas as cores e suas pernas e coxas e eu não sentia atração alguma, para mim, naqueles tempos em que eu estava extremamente deprimido, nunca iria aparecer outra garota como ela. Vivi perto de 1 ano e meio como um ser assexuado, eu havia sido despedaçado e estava remontando-me, precisava me ver longe de mulheres e de sua influência por um bom tempo. Ao fim desse período, conheci ela, a mulher de que quero falar desde o começo de toda essa história.
    Victória. Ela era a nova professora de filosofia, na verdade ela havia se formado em psicologia, mas podia dar aulas graças a uma especialização feita a distância, além do que abrir um consultório não é algo fácil hoje em dia. Victória tinha lindos cabelos ruivos e ondulados, lembrando chamas e um kanji significando “amor” quase que imperceptível tatuado na nuca, ela também era dona de um belo par de seios, e usava óculos, o que a deixava com um ar de intelectual reprimida que eu achei estranho de começo, mas logo, achei belo. De começo, nós éramos apenas amigos, sem nenhuma sacanagem, pelo menos da minha parte, saíamos juntos e tudo o mais que colegas que viram amigos fazem, mas, até então, não tínhamos olhares de malícia um para o outro. Ela me contou como tinha um triste fim em todos os seus relacionamentos e que na grande maioria das vezes era por sua própria culpa, por ser muito exigente a maioria das vezes e que estava tentando mudar isso, me identifiquei com ela nesse aspecto, e eu lhe contei toda a minha história, na verdade, praticamente vomitei toda minha história de vida nela, não sei por que mas sempre agi como se a palavra psicólogo e “confidente para todas as horas” fossem sinônimos, ela admirou-se com tudo isto e segundo a própria, foi isso que a fez se interessar por mim de começo, até hoje não entendo.
    Um terceiro e último costume humano que me fascina é a capacidade de adaptação em tempos de necessidade. Assim, quando percebi o interesse dela, minha vontade até então oculta e agora incontrolável de fazer sexo despertou um antigo hábito com relação a cabelos e suas cores e também jogou todas as minhas regras para escanteio, tudo pela quase perfeita, linda e ruiva Victória. Essa foi a 3ª vez que me apaixonei pra valer, acho que tive facilidade em relevar o fato de ela ter suas pernas no lugar, afinal, nem só de qualidades as mulheres são feitas e eu precisava de alguém para conversar, não tanto quanto para transar, mas precisava, e assim, nós dois nos envolvemos de um jeito frenético e lindo.   Nosso casamento está marcado para daqui duas semanas, eu, esse trapo que você está vendo e a “quase perfeita Victória”, sou um homem de sorte, a lua de mel será na Nova Zelândia, juntei grana e planejei muito tempo essa viagem, nós vamos escalar e talvez até surfar, quero ver coalas também, existem coalas na Nova Zelândia né!? De qualquer jeito, vai ser lindo.
    Mas aproveitando que falei de escalar, você sabia que a taxa de amputados em casos de acidente com a subida de rochedos é de quase 15%? Isso é mais do que em ataques de ursos e acidentes com motosserras! Esse tipo de informação praticamente inútil sempre me diverte.
 
 
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Dedicado à Victória, minha futura paixão.

sábado, 6 de agosto de 2011

Sobre rosas e bolsos.

   Naquela época eu era só um estudante do 2º ano colegial. Então conheci essa moça, Jéssica era seu nome, havia sido transferida. Era muito bonita, olhos místicos que mesclavam entre azul e verde, sempre fiquei embasbacado com aqueles olhos e modo como ela os usava. Cabelos pintados de vermelho e quem me conhece sabe que isso sempre foi meu ponto fraco, não posso ver uma guria de cabelo vermelho que fico louco. Ela tinha um atraente e esguio corpo, o qual movimentava de um jeito tão doce e sensual que chegava a ser difícil não ficar hipnotizado pelo seu caminhar. Como ela era nova no colégio, procurava pessoas para fazer amizade, ou mais que isso. Éramos da mesma sala, sentávamos perto um do outro, logo, o contato entre nós dois era inevitável.
    O tempo foi passando e estávamos nos conhecendo, eu descobri que ela, assim como eu, tinha um pouquinho de sotaque gaúcho, ela descobriu que eu não gosto de pessoas sem valor pedindo atenção e que achava lindo o seu modo de escrever, colocando a caneta entremeio os dedos anelar e médio, gostava tanto que até adotei a técnica e hoje só escrevo assim. Conversa após conversa, um conhecia mais do outro e surgiu em mim um certo desejo por ela, posso estar enganado, mas acho que ela também tinha apreço por mim.
   Um dia estávamos conversando sobre romantismo, não o movimento artístico e sim algo em torno de como ser romântico, como isso era bonito e ao mesmo tempo não tinha mais espaço na nossa época. Falei sobre como gostaria de ter uma moça a quem pudesse dar flores e chocolates e gostar de verdade sabendo que poderia confiar, com uma cara de decepção ela me disse que nenhum homem jamais havia lhe dado flores e que acharia lindo se isso acontecesse. Não sei se ela queria me dar algum sinal com isso, ou apenas estava mostrando um lado mais sensível de si, mas resolvi que iria deixá-la feliz, eu iria ser seu cavalheiro.
    Fui para casa naquele dia pensando se deveria comprar um lindo buquê de tulipas azuis ou se deveria mandar-lhe um belo cartão e junto dele uma única e formosa rosa vermelha, queria ser o mais original possível. Chegando em casa lembrei que não era de uma família rica e que não tinha um emprego, logo, não teria dinheiro para comprar algo tão cedo, isso era um problema. Vi na floreira de minha mãe, em nosso jardim, uma mini-roseira, ela era tão bela quanto as grandes porém de tamanho reduzido, dando pequeninas rosas de um vermelho vivo, tinham talvez até mais charme que as grandes. Então resolvi dar a ela as pequenas rosas, afinal o que importava era a intenção e para alguém que nunca havia recebido flores, acho que pequenas rosas seriam suficientes para lhe fazer feliz.
    Então armei tudo, cortei uma pequena rosa e embrulhei-a em papel filme com uma fita de cetim, falando assim parece tosco, mas minhas habilidades manuais sempre foram maiores do que o normal, consegui fazer um bonito arranjo, por mais impossível que isso pareça. Fui para aula com a flor no bolso da minha calça do uniforme da escola, ia deixá-la em cima de sua carteira e com certeza ela perceberia que aquilo era coisa minha. Quando retirei a rosa do bolso, algumas pétalas haviam caído, resolvi não entregar naquele dia e ter mais cuidado com uma próxima flor que lhe levaria no dia seguinte, guardei novamente aquela no bolso e fingi para ela que não tinha planejado nada depois de nossa conversa.
    Dia seguinte, dessa vez não tinha como dar errado, afinal era só entregar uma flor. Peguei mais uma rosa, desta vez nem me preocupei com arranjos ou fitas, levei-a para o colégio e desta vez em minhas mãos. Deixei-a em cima de sua mesa e fui até o corredor para tomar água, encontrei-me com ela no caminho e senti que havia algo errado, ela estava muito mal-humorada, achei que algo poderia ter acontecido e ela estar brava comigo, preferi não arriscar, voltei rápido para sala tirei a flor de sua mesa, coloquei-a rapidamente no bolso, a fazer companhia para a que tinha deixado lá no dia anterior (na época eu tinha apenas uma calça do uniforme, elas eram caras, então usava-a a semana toda.) e nesse dia mal nos falamos.
   Dia após dia eu arrancava uma flor da pequenina roseira e, com o objetivo de conquistar aquela jovem, levava-a para a escola, incrivelmente, por algum motivo, nunca consegui “terminar o serviço” e entregar a rosa para a adorável Jéssica, num dia ela não foi para a aula, no outro eu achava que ela não me via como alguém a se relacionar e ficaria irritada com o presente (acho que isso foi insegurança demais da minha parte, mas o que eu podia fazer, era apenas um garoto do 2º ano colegial) e assim foi. Alguns dias passaram e acabaram-se as flores da pequena roseira, entendi a situação, não estava faltando o momento perfeito, faltava um homem. Desisti de conquistar aquela moça e no fim daquilo tudo, restaram apenas uma roseira sem flores e várias rosas secas em meu bolso.